A herdeira, que sabia se fazer discreta,
preferia dar um pulo na capital de vez em quando. Como Marieta gostava de falar
para as confidentes, nada como um bom banho de asfalto para elevar o astral de
qualquer mulher, inclusive das compromissadas, sejam casadas ou ajuntadas. Ela
bem sabia que mesmo os ares do campo, chega uma hora, também sufoca.
E foi numa dessas andanças pela cidade que
Marieta conheceu o belo Dagoberto, um gajo dos seus 33 anos, cujas atitudes
longe dos olhos da esposa poderiam crucificá-lo. Que fosse assim ou de outro
modo, a verdade é que Marieta não dava a mínima para antecedentes matrimoniais
dos seus casos.
Marieta e Dagoberto amaram-se mais do que de
costume, até que, por um desses acasos da vida, se viram apaixonados. Mas não
paixão efêmera, que não vai muito além de um final de semana ou de algumas
tardes furtivas em hotel no centro. Não mesmo! A coisa virou caso sério, do
tipo que faz os amantes não perceberem o abismo diante dos seus
olhos. Falta de aviso não foi, já que a Juliana, amiga de longa data da
fazendeira, falou com todas as letras.
— Marieta, sabe de quem o Dagoberto é marido?
— Não sei e nem me interessa.
— Pois devia, mulher!
— Então, diga logo, que tenho coisa mais
urgente pra fazer.
— O seu namoradinho é casado com a Solange,
— Que Solange? E eu lá sei quem é Solange?
— Aquela sua prima, mulher! Tá esquecida?
— Você tá falando da filha do tio Getúlio?
— A própria!
Tal revelação não assustou Marieta. Pelo
contrário, fez até a mulher ficar mais interessada no Dagoberto. É que a
danada, além de rica até dizer chega, é afeita a uma balbúrdia familiar.
Todavia, até onde se sabe, o romance desses dois ainda não chegou aos ouvidos
da parentada. Ou, se caiu, o povo preferiu manter as aparências.
- Nota de esclarecimento: O conto "Marieta e o banho de asfalto" foi publicado por Notibras no dia 18/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/marieta-toma-banho-de-asfalto-e-transpira-na-cama/
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