— Lindo!
Na
verdade, depois de alguns dias, fiquei na dúvida se ele se referiu ao meu nome
ou, então, ao generoso decote que eu usava. Seja como for, já era tarde, pois
logo estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro.
De namorados, passamos a morar
juntos alguns meses após, para desespero dos meus pais.
— Minha filha, por que não se
casam?
Com o tempo, meu companheiro e
eu fomos descobrindo certas diferenças, a maioria contornável. Uma delas é que
ele adora filmes de ficção científica, enquanto sou apaixonada por terror. Mas
não esses clássicos que nem “A profecia” e “O exorcista”. Curto trash. E levo
muito a sério essa paixão.
Nesses momentos, fecho todas as
cortinas, apago as luzes, aumento o volume e me sento no sofá com uma bacia com
pipoca até a boca. Meu amado, nessas horas, costuma se sentar ao meu lado. O
problema é que, não raro, ele solta umas risadinhas, o que me deixa muito
irritada. Se não consegue entrar no clima, que vá para o quarto ou, então, que
dê uma volta na rua.
A despeito de tal situação, há
uma outra que eu até achava engraçado durante os primeiros meses de
relacionamento. É que sou da noite, enquanto ele sempre se levanta antes
dos primeiros raios. Não importa se seja sábado, domingo, feriado ou se estamos
de férias. Lá está o sujeito de pé, como se, àquela hora da manhã, o mundo
fosse a coisa mais linda.
Pois é, na semana passada, meu
homem e eu fomos a um barzinho, onde encontramos alguns amigos. Enquanto tomei
todas e mais algumas, o bonito, como sempre, ficou apenas na água com gás. O
resultado foi que cheguei em casa nos seus braços. Mas eis que, no dia
seguinte, antes das 11h, o dito cujo me cutuca.
— Margô, meu amor, acorda!
Combinamos almoçar com seus pais.
— Julião, não amola! Ainda
estou em outro planeta.
- Nota de esclarecimento: O conto "Meras incompatibilidades" foi publicado por Notibras no dia 4/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/margo-bebe-todas-esquece-almoco-e-viaja-de-cuca-legal/
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