O ano exato não se
sabe, mas a maior parte das pessoas diz que aconteceu na década de 1920, em uma
cidade do agreste nordestino. E, naquele tempo, era comum a população andar
armada, o que transformava o lugar em um negócio rentável para o dono da única funerária
por aquelas bandas.
Outra informação que se faz
necessária é que, assim como na maior parte do país, a luz elétrica ainda não
havia chegado ali, e os moradores precisavam recorrer a fogueiras, lamparinas e
lampiões a querosene. Por causa da precária iluminação, o povo jantava
antes do sol se pôr e, às 20h, tirando os casais mais empolgados, a cidade
adormecia.
Pois bem, muito antes daquele
criminoso que assombrou a capital paulista no final dos anos 1960, um outro
bandido andava levando pânico àquele pequeno povoado. O tal delinquente, por
conta da falta de luz, fazia uso de um lampião de vidro vermelho, o que
provocava um contraste macabro durante as noites escuras. Os moradores o
apelidaram de Bandido do Lampião Vermelho.
O
facínora, além de roubar o pouco que aquela gente possuía, ainda molestava as
donzelas, que, por costumes da época, precisavam ser mandadas para um convento,
onde passavam a vida inteira rezando para se redimirem do pecado de terem sido
violadas. Algumas não suportavam tal martírio e tiravam a própria vida, mas
também há casos das que passaram a viver a vida das mulheres malfaladas. Duas
ou três, todavia, conseguiram manter segredo da violação e contraíram
matrimônio. Adestradas pela mãe, souberam ludibriar o noivo na noite de
núpcias.
A despeito do terror que se
abateu sobre a população, havia por ali um homem destemido, cujo nome ainda
hoje ecoa nas histórias contadas. Genaro Cavalcante, charuto no canto da boca,
garrucha na mão, cuspia bala para qualquer desaforado. O cabra andava arretado
com esse marginal e prometeu dar fim ao sujeito assim que o encontrasse.
Enquanto a promessa não era
cumprida, o Bandido do Lampião Vermelho agiu novamente. O malfeitor,
sorrateiramente, invadiu a casa da dona Francisca, esposa do Timóteo.
Entretanto, pelo menos nesse caso, a coisa aconteceu em conluio com a mulher. É
que, sem o conhecimento do marido, Francisca andava de namorico com o Bandido
do Lampião Vermelho e, durante as noites que Timóteo saía para caçar, ela
acolhia o amante debaixo dos lençóis.
O esposo traído, talvez por
conta da falta de caça ou, então, por desconfiança, acabou retornando mais cedo
para casa. Assim que abriu a porta, ouviu alguns gemidos vindos do quarto. Arma
em riste, correu para salvar a mulher das garras do salafrário. No entanto,
antes que conseguisse chegar, o Bandido do Lampião Vermelho já havia fugido
pela janela, mas deixou o lampião ao lado da cama.
Francisca, amedrontada pela
chegada de Timóteo, ajoelhou aos pés do marido e suplicou perdão. O esposo,
imaginando que a mulher fosse mais uma vítima do marginal, acolheu-a nos
braços. Em seguida, pegou o lampião no chão e prometeu vingar a honra da
amada.
A esposa viu o marido sair,
quando, não tardou, ouviu um tiro. Correu para fora e viu Timóteo caído a
poucos metros da casa. Curiosos correram ao local, onde encontraram Genaro
Cavalcante se vangloriando.
— Prometi que ia matar o gatuno
e matei.
Os
moradores enalteceram a bravura do matador. Em terreiro de Genaro Cavalcante,
ninguém se cria. Quanto ao verdadeiro Bandido do Lampião Vermelho, ninguém mais
ouviu falar. A viúva de Timóteo, não tardou, também sumiu e, até onde se sabe,
nunca se preocupou em dar notícias.
- Nota de esclarecimento: O conto "Bandido do Lampião Vermelho" foi publicado por Notibras no dia 3/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/timoteo-traido-confundido-e-morto-como-o-bandido-do-lampiao-vermelho/
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