Localizado na aprazível Sobradinho, no Distrito Federal, o pequeno, mas pujante
comércio possui clientes do quilate do Bin Laden, folclórico morador da região,
que já furtou, sem querer, obviamente, a chave da banca. Nesse dia, o Guima
teve a vida virada do avesso. Entretanto, até onde me consta, tudo acabou bem
ou, pelo menos, quase isso.
Além do ladrão de chaves alheias, há outros clientes
impagáveis como, por exemplo, o Capitão, quase centenário, cuja esposa, dona Finória,
só o chama de "Meu General". Outro tipo é o Gavião, que jura de pés
juntos que já foi espião do antigo SNI. Ninguém acredita, mas não há quem
duvide. Ainda perambula por lá, o Dr. Pocotó, alma serena até demais, que vai à
banca sempre de forma discreta e tranquila para não chamar atenção,
principalmente, do Zé Boião, verdadeiro chato de galocha.
A despeito de tanta gente que poderia muito bem passar uma
temporada no Pinel, eis que por ali também anda a dona Sônia. No auge dos seus
75 anos, a mulher fala como se fosse narrar uma partida de futebol pelo rádio.
É a tagarelice em pessoa, que desanda a falar justamente quando a banca está
lotada. E o pobre Guima, que sempre procura atender a sua clientela de modo o
mais gentil possível, fica completamente desnorteado. Todavia, até ele já não
aguenta mais escutar tanta ladainha, ainda mais porque a tagarela não para um
minuto sequer de tagarelar, tagarelar, tagarelar...
Por conta desse estresse do dia a dia, o Guima não costuma
abrir a banda aos domingos. É o seu dia de relaxar, tomar uma cerveja no sofá e
assistir ao seu time do coração, que, até hoje, ninguém descobriu qual é.
Talvez porque o sujeito não quer causar pendengas desnecessárias com os
clientes malucos que perambulam por sua banca. É mesmo uma ótima
estratégia.
Pois bem, lá estava o Guima em seu apartamento, quando
percebeu que o tempo estava propício para um bom banho de piscina. Sorte a dele
que no prédio tem uma na cobertura. E lá foi o gajo devidamente paramentado
para um mergulho.
Mal chegou, colocou os apetrechos sobre
uma cadeira e, de sunga amarelo-limão discretíssima, caminhou até a borda da
piscina. Sentou-se e, com os pés, experimentou a temperatura da água. Gelada,
mas que lhe trouxe certo alívio, ainda mais porque o calor estava de
rachar.
Quando já estava decidido a entrar na
piscina, eis que, do nada, surgiu a dona Sônia de biquíni rosa-choque. O Guima
precisou pegar um pouco de água e lavar os olhos. Não era possível, era mesmo
ela. Mas como? Guima nem precisou pensar muito, pois, não tardou, lá foi a
dona Sônia conversar com ele.
Guima, você por aqui! Que surpresa agradável!
Blá-blá-blá...
— Dona Sônia,
o que a senhora está fazendo aqui?
— Você acredita que
comprei um apartamento neste prédio. E não é só isso.
— Tem mais?
— Sim! Somos vizinhos de porta! Olha que coisa
maravilhosa! Blá-blá-blá...
— Ih, dona Sônia, a senhora vai me desculpar,
mas me esqueci de abrir a banca.
E, tremendo mais do que vara verde, o Guima se despediu sem mais delongas e foi se trancar no seu apartamento. Decidiu que não sairia de lá nem se o prédio pegasse fogo. Por sorte, não se tem notícia de incêndio na localidade.
- Nota de esclarecimento: O conto "Uma banca muito maluca" foi publicada no Notibras no dia 13/12/2025.
- https://www.notibras.com/site/uma-banca-muito-maluca/

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