sábado, 13 de dezembro de 2025

Uma banca muito maluca

          

        Há quem diga que a Banca do Guima, que vende desde periódicos, refrigerantes, doces, chaveiros e canetas até o que Deus duvida, deveria fazer um puxadinho para atendimento psiquiátrico. É que por ali anda tanta gente, digamos, fora da curva, que não faltariam pacientes para o novo negócio. 

        Localizado na aprazível Sobradinho, no Distrito Federal, o pequeno, mas pujante comércio possui clientes do quilate do Bin Laden, folclórico morador da região, que já furtou, sem querer, obviamente, a chave da banca. Nesse dia, o Guima teve a vida virada do avesso. Entretanto, até onde me consta, tudo acabou bem ou, pelo menos, quase isso. 

       Além do ladrão de chaves alheias, há outros clientes impagáveis como, por exemplo, o Capitão, quase centenário, cuja esposa, dona Finória, só o chama de "Meu General". Outro tipo é o Gavião, que jura de pés juntos que já foi espião do antigo SNI. Ninguém acredita, mas não há quem duvide. Ainda perambula por lá, o Dr. Pocotó, alma serena até demais, que vai à banca sempre de forma discreta e tranquila para não chamar atenção, principalmente, do Zé Boião, verdadeiro chato de galocha. 

            A despeito de tanta gente que poderia muito bem passar uma temporada no Pinel, eis que por ali também anda a dona Sônia. No auge dos seus 75 anos, a mulher fala como se fosse narrar uma partida de futebol pelo rádio. É a tagarelice em pessoa, que desanda a falar justamente quando a banca está lotada. E o pobre Guima, que sempre procura atender a sua clientela de modo o mais gentil possível, fica completamente desnorteado. Todavia, até ele já não aguenta mais escutar tanta ladainha, ainda mais porque a tagarela não para um minuto sequer de tagarelar, tagarelar, tagarelar...

            Por conta desse estresse do dia a dia, o Guima não costuma abrir a banda aos domingos. É o seu dia de relaxar, tomar uma cerveja no sofá e assistir ao seu time do coração, que, até hoje, ninguém descobriu qual é. Talvez porque o sujeito não quer causar pendengas desnecessárias com os clientes malucos que perambulam por sua banca. É mesmo uma ótima estratégia. 

            Pois bem, lá estava o Guima em seu apartamento, quando percebeu que o tempo estava propício para um bom banho de piscina. Sorte a dele que no prédio tem uma na cobertura. E lá foi o gajo devidamente paramentado para um mergulho.

           Mal chegou, colocou os apetrechos sobre uma cadeira e, de sunga amarelo-limão discretíssima, caminhou até a borda da piscina. Sentou-se e, com os pés, experimentou a temperatura da água. Gelada, mas que lhe trouxe certo alívio, ainda mais porque o calor estava de rachar. 

       Quando já estava decidido a entrar na piscina, eis que, do nada, surgiu a dona Sônia de biquíni rosa-choque. O Guima precisou pegar um pouco de água e lavar os olhos. Não era possível, era mesmo ela. Mas como? Guima nem precisou pensar muito, pois, não tardou, lá foi a dona Sônia conversar com ele. 

          Guima, você por aqui! Que surpresa agradável! Blá-blá-blá...

                 — Dona Sônia, o que a senhora está fazendo aqui?

                — Você acredita que comprei um apartamento neste prédio. E não é só isso.

                — Tem mais?

              — Sim! Somos vizinhos de porta! Olha que coisa maravilhosa! Blá-blá-blá...

               — Ih, dona Sônia, a senhora vai me desculpar, mas me esqueci de abrir a banca. 

                E, tremendo mais do que vara verde, o Guima se despediu sem mais delongas e foi se trancar no seu apartamento. Decidiu que não sairia de lá nem se o prédio pegasse fogo. Por sorte, não se tem notícia de incêndio na localidade. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Uma banca muito maluca" foi publicada no Notibras no dia 13/12/2025.
  • https://www.notibras.com/site/uma-banca-muito-maluca/

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