terça-feira, 2 de setembro de 2025

Santana e o apelido que pegou

   

        Santana, o mais notório procrastinador da polícia civil, adentrou a delegacia, como de costume, de cara amarrada. Ah, isso como se alguém já tivesse presenciado algo diferente. No entanto, naquele plantão, parece que a situação descambou ladeira abaixo. E, pasmem, tudo por conta de um simples bom-dia. 

         A equipe, composta por Rupereta, o delegado, Gilmarildo, o escrivão, além dos agentes Ricky Ricardo, Evelina, Pedrito, Jean Paul e o tal preguiçoso, já estava a postos para combater a criminalidade na região de Sobradinho, bucólica cidade do Distrito Federal. Entretanto, tudo parecia caminhar para mais uma jornada tranquila, já que o delegado-chefe, Bruno Bondonado, após promover várias operações de sucesso, havia conseguido transformar a localidade na Suíça do Cerrado. 

          Diante de tamanho apaziguamento, Rupereta decidiu fazer um mimo para a equipe e, então, chamou o Pedrito para irem até a padaria comprar pão de queijo, empadinhas, coxinhas e refrigerante, pois a ocasião merecia. E, quando o delegado e o agente já estavam na viatura, eis que surgiu um esbaforido Santana querendo ir também.

          Mal sentou no banco de trás da viatura, o Santana começou a empestear o ambiente com a descontrolada flatulência, o que obrigou os colegas a abaixarem os vidros em busca de ar saudável. E, fingindo-se de inocente, quis jogar a culpa no outro policial.

          — Por acaso comeu ovo podre, Pedrito?

          Para evitar imbróglios desnecessários, o injustamente acusado preferiu o silêncio até que, cinco minutos depois, estacionou o veículo em frente à panificadora. Ele e Rupereta desceram para comprar os quitutes, enquanto Santana preferiu fumar encostado à lataria. E ficou ali dando suas baforadas, quando Cascão, conhecido morador da área, passou e o cumprimentou.

          — Bom dia, seu Zé Galinha!

          Vale aqui uma pausa no desenrolar da história. É que, não se sabe por qual motivo, o Santana havia ganhado esse apelido. Alguns diziam que era por causa de seu modo galanteador com as moças da casa da luz vermelha. Outros, todavia, apostavam que o motivo era que o gorducho policial adorava degustar uma coxa de galinha. Seja por qual motivo fosse, o resultado daquela saudação não poderia ter sido mais desastrosa.

          — Tá maluco, Cascão?

          — Não entendi, seu Zé Galinha?

           — Zé Galinha é a mãe!

          E a coisa não parou por aí, pois, assim que o delegado e Pedrito retornaram com as sacolas abarrotadas, encontraram o Cascão dentro do cubículo da viatura. Surpresos, eles se entreolharam, como não acreditando naquilo. O que teria acontecido em pouco mais de dez minutos?

          — Doutor, esse facínora me xingou.

          Para não causar ainda mais confusão em frente ao comércio, Rupereta disse para o Pedrito tocar a viatura até a delegacia, onde pretendia solucionar aquele mal-entendido. E, utilizando-se de toda sua conhecida diplomacia, o delegado pareceu colocar panos quentes na situação.

           — Ô, seu Zé Galinha, eu só quis ser educado com o senhor.

           — Zé Galinha é a mãe! Já te falei isso!

           — Calma, Santana, o Cascão só quis ser educado.

           — Doutor, esse aí é um cínico. Isso, sim!

           — Santana, você quer passar o plantão todo com o Cascão na cela ou prefere comer as coisas que comprei?

            O policial olhou para o desafeto, voltou os olhos para as delícias sobre a mesa e, então, decidiu.

            — É, doutor, o senhor tem razão. Pode liberar o meliante. 

           E assim foi feito. Mas eis que o Santana, com duas empadinhas de frango na boca, quase teve um treco. É que o Cascão, já fora da delegacia, começou a correr, bater os braços, como asas fosse, e gritar:

            — Cocoricó! Cocoricó! Cocoricó!

  • Nota de esclarecimento: O conto "Santana e o apelido que pegou" foi publicado por Notibras no dia 2/9/2025.
  • https://www.notibras.com/site/santana-e-o-apelido-que-pegou/

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