sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Regina, a (quase) fiel esposa do pastor

 

  Regina andava de olho no Reinaldo, que nem era essa Coca-Cola toda, mas fazia sucesso naquela parte quase esquecida pelos governantes do Distrito Federal. Quase apenas porque, de quatro em quatro anos, chovia aquele povo engravatado, que prometia mundos e fundos, em busca de votos. 

    O sujeito, que era praticamente amigado de Ludmila, não perdia oportunidade de pular a cerca quando surgia a mínima oportunidade. E não pense você que ele se importava se fosse bater a cara contra o muro, já que, como gostava de dizer, escondido num monte de nãos, sempre haverá um sim à espreita de quem não desiste da empreitada. 

    E não é que, no meio dessas inúmeras paqueras infrutíferas, Reinaldo conseguiu fisgar justamente a esposa do pastor Dorival? Sim, a Regina, que não teve dúvida em arriscar a reputação de mulher distinta, cuja função principal na igreja era a de se sentar recatadamente ao lado do marido e fazer feições dignas de pintura sacra. 

      Santa Regina? Bem, nem tanto, mas os fiéis pareciam colocar a mão no fogo por ela, ainda mais depois de sermões inflamados do esposo. E não havia quem não ficasse tomado de revolta contra os pecadores. Que morressem e fossem para o inferno, pois Deus não seria misericordioso com esses transgressores dos sagrados ensinamentos contidos na Bíblia.

        Como o santo é de barro, melhor andar a passos suaves de felino sobre a relva. Se bem que, por outro lado, há coisas neste mundo que são próprias dos hormônios, ainda mais os da Regina, que andavam represados há tempos, já que o cônjuge parecia preocupado demais em cuidar das outras ovelhas. Não todas, é verdade, mas apenas as que lhe davam certa abertura. E como davam!

        Pois aconteceu numa quarta-feira, dia mais improvável impossível para um romance não-programável pela própria imprevisibilidade. Todavia, destino é algo que, não raro, acontece sem estarmos preparados. Ou você foge ou, o que é mais provável, mete a cabeça e vive a loucura do instante, mesmo que saiba que não vai dar bom. 

        Bastou breve troca de olhares, entre as prateleiras do mercadinho da vizinhança, para que Reinaldo visse na mulher uma oportunidade de extravasar a luxúria que transbordava de seu ser. E, enquanto colocava um pacote de macarrão no carrinho, Regina não se fez de rogada e, impetuosa que se sentiu naquele instante, abriu seu melhor sorriso para o alvo. 

        O romance durou o tempo seguro para não gerar fofocas, apesar de, dizem, Ludmila acabar descobrindo a traição do amado. Seja como for, preferiu manter silêncio, pois, também dizem, tinha o rabo preso por conta de troca de beijos e coisitas mais justamente com o pastor Dorival. Pois é! Com o marido da amante do seu Reinaldo. 

        Parece até que as improbabilidades acontecem com certa frequência naquele lugar, já que, do nada, mas do nada mesmo, lá estavam a Regina e a Ludmila no mesmo mercadinho, cada qual com seu pacote de macarrão nas mãos. As duas, surpresas, se olharam por um instante, até que a mulher do Reinaldo quebrou o clima.

          O pastor gosta desse macarrão?

          Sabe que nem sei. Sempre compro o mesmo desde que nos casamos.

          E não seria hora de trocar?

          Hum... Pensando bem, creio que não.

         E por que não trocar, amiga?

          Don Juan sem muita poesia. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Regina, a (quase) fiel esposa do pastor" foi publicado por Notibrss no dia 12/9/2025.
  • https://www.notibras.com/site/regina-a-quase-fiel-esposa-do-pastor/

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