terça-feira, 3 de junho de 2025

Teodoro Campos, poeta e escritor

    

             Teodoro Campos, enfurnado na escrita, angariou certo reconhecimento na literatura. Não ficou rico e, não raro, até perdia dinheiro, apesar dos inúmeros elogios que recebia quase diariamente de amigos, conhecidos, escritores que trilhavam em busca da fama e até jornalistas de veículos menores. Não obstante, os livros encalhavam.

          A despeito do insucesso de vendas, Teodoro levava uma vida confortável, fruto de substancial aposentadoria de servidor público e de investimentos que deram certo, apesar de contratempos com alguns inquilinos. Era proprietário de um conjunto de quitinetes na Asa Norte, cujos aluguéis complementavam a renda, permitindo-lhe mimos, incluindo, nesse bojo, a edição e impressão de suas obras literárias. 

          O sujeito, de vez em quando, era laureado em concursos de contos, crônicas e, para seu deleite, poesias, que parecia ser o objetivo maior de ter enveredado por esse caminho de incertezas de se travestir de artista das letras. Problema maior era que nem sempre a inspiração lhe fazia visita e, não raro, Teodoro buscava fontes pouco apropriadas, mesmo que ninguém pudesse dizer que não eram originais. Dessa forma, enquanto pensava em algo, vinha-lhe na mente rimar o dejejum à sua frente.

    "...E ela observou o pão

Que poderia lhe aumentar alguns quilos

Melhor seria o mamão

Ou, então, meter logo o pé na jaca e atacar os frios,,,"

          Pior, quase impossível. Mas não pense você que faltava talento ao grande laureado em conceituado concurso literário. Pois é, Teodoro Campos, além do troféu de melhor livro de poesias, recebeu polpuda quantia em dinheiro. Foi uma noite de glórias para o nosso escritor, que, nos dias seguintes, precisou se acostumar com a pequena fama, já que sua fotografia estampou os principais jornais do Distrito Federal. 

          E foi justamente no quinto dia após vencer o prêmio que algo inusitado aconteceu, bem ali na mercearia próxima ao apartamento do homem. Enquanto escolhia entre as diversas marcas de café, eis que se aproximou um antigo colega de trabalho.

          — Teodoro, meus parabéns! Fiquei sabendo da sua premiação.

          — Oi, Tiago!

          — Você merece, sempre foi muito bom com esse negócio de escrever.

          — Muito obrigado.

          — Só tome cuidado da próxima vez.

          — Como assim?

          — Da próxima vez que for receber um prêmio, não se esqueça de pentear os cabelos.

          — Tiago, meu amigo, sou escritor, e escritores não precisam parecer retrato 3x4.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Teodoro Campos, poeta e escritor" foi publicado por Notibras no dia 3/6/2025.
  • https://www.notibras.com/site/teodoro-campos-poeta-e-escritor-que-vivia-com-seus-livros-encalhados/

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