quinta-feira, 26 de junho de 2025

O caso da lanterna desaparecida

    

               Mais um plantão na delegacia onde o agente Santana é lotado. Queixumeiro que é, já entrou no recinto soltando impropérios ao vento, como se alguém fosse dar bola para o que saía da sua boca. Mesmo assim, reclamava, reclamava, reclamava e, caso tivesse oportunidade, reclamava novamente. 

            Para sua surpresa e desgosto, Santana percebeu um policial estranho na área. Tratava-se do Deyvystony, que acabara de tomar posse na polícia com todos os ípsilons possíveis e, a partir de então, comporia a equipe de plantão comandada pelo experiente agente Ricky Ricardo, que já contava com o sagaz agente Don Pedrito, o escrivão Bernardino, o delegado Rupereta e, é óbvio, o rei da preguiça, o intragável Santana. 

            Sem papas na língua, o desagradável agente não perdoou quando soube o nome do novo colega.

            — Hum! Deyvystony?

            — Sim.

            — DEY-VYS-TO-NY?

            — Sim, isso mesmo.

            — Foi seu pai ou sua mãe que roubou todos os ípsilons do dicionário?

            Para não entrar em atrito logo no primeiro dia de trabalho, Deyvystony levou a provocação numa boa. Abriu aquele sorriso de anúncio de pasta de dente, o que deixou o Santana contrariado. Antes tivesse dado uma resposta atravessada, já que o velho policial não suportava gente bem-humorada e, pior, de bem com a vida. 

            O plantão naquele dia foi corrido. Algumas diligências foram feitas a fim de combater a criminalidade na região. Nisso, Deyvystony acabou perdendo a sua lanterna. Ele tinha quase certeza de que a havia deixado cair na viatura. E lá foi ele tentar encontrá-la, quando se deparou com o Santana anotando a quilometragem rodada.

— Santana, você viu uma lanterna?

            — Lanterna?

            — Sim. Acho que deixei cair aqui no banco de trás.

            — Não vi.

           Sem lograr êxito em sua busca, o novato comunicou o fato ao Ricky Ricardo, que transmitiu ao delegado Rupereta e aos outros membros da equipe. 

            — Ricky, coloque isso no grupo do WhatsApp.

            — Pode deixar, doutor!

           "Caso alguém encontre uma lanterna da marca Invictus, cor preta, com funções luz alta, luz baixa e estrobo, favor entregá-la ao agente Deyvystony."

            Mensagem postada, Ricky Ricardo, já fechando o seu turno, começou a se despedir dos colegas. Mas eis que, para sua surpresa, algo fez com que ele olhasse para o bolso de trás da calça do Santana, que já estava de saída na porta da delegacia. Um pisca-pisca incessante.

            — Alto lá, Santana! 

            — O que foi, Ricky?

            — Acho que a lanterna do Deyvystony entrou sem querer no bolso da sua calça. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "O caso da lanterna desaparecida" foi publicado por Notibras no dia 26/6/2025.
  • https://www.notibras.com/site/o-intrincado-caso-da-lanterna-desaparecida/

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