Mais um plantão na delegacia onde o agente Santana é lotado. Queixumeiro que é, já entrou no recinto soltando impropérios ao vento, como se alguém fosse dar bola para o que saía da sua boca. Mesmo assim, reclamava, reclamava, reclamava e, caso tivesse oportunidade, reclamava novamente.
Para sua surpresa e desgosto, Santana
percebeu um policial estranho na área. Tratava-se do Deyvystony, que acabara de
tomar posse na polícia com todos os ípsilons possíveis e, a partir
de então, comporia a equipe de plantão comandada pelo experiente agente Ricky
Ricardo, que já contava com o sagaz agente Don Pedrito, o escrivão Bernardino,
o delegado Rupereta e, é óbvio, o rei da preguiça, o intragável Santana.
Sem papas na língua, o desagradável agente
não perdoou quando soube o nome do novo colega.
— Hum! Deyvystony?
— Sim.
— DEY-VYS-TO-NY?
— Sim, isso mesmo.
— Foi seu pai ou sua mãe que roubou todos
os ípsilons do dicionário?
Para não entrar em atrito logo no
primeiro dia de trabalho, Deyvystony levou a provocação numa boa. Abriu aquele
sorriso de anúncio de pasta de dente, o que deixou o Santana contrariado. Antes
tivesse dado uma resposta atravessada, já que o velho policial não suportava
gente bem-humorada e, pior, de bem com a vida.
O plantão naquele dia foi corrido.
Algumas diligências foram feitas a fim de combater a criminalidade na região.
Nisso, Deyvystony acabou perdendo a sua lanterna. Ele tinha quase certeza de
que a havia deixado cair na viatura. E lá foi ele tentar encontrá-la, quando se
deparou com o Santana anotando a quilometragem rodada.
— Santana, você viu
uma lanterna?
— Lanterna?
— Sim. Acho que deixei cair aqui no banco de trás.
— Não vi.
Sem lograr êxito em sua busca, o novato comunicou o fato ao Ricky
Ricardo, que transmitiu ao delegado Rupereta e aos outros membros da
equipe.
— Ricky, coloque isso no grupo do WhatsApp.
— Pode deixar, doutor!
"Caso alguém encontre uma lanterna da marca Invictus,
cor preta, com funções luz alta, luz baixa e estrobo, favor entregá-la ao
agente Deyvystony."
Mensagem postada, Ricky Ricardo, já fechando o seu turno,
começou a se despedir dos colegas. Mas eis que, para sua surpresa, algo fez com
que ele olhasse para o bolso de trás da calça do Santana, que já estava de
saída na porta da delegacia. Um pisca-pisca incessante.
— Alto lá, Santana!
— O que foi, Ricky?
— Acho que a lanterna do Deyvystony entrou sem querer no bolso da sua calça.
- Nota de esclarecimento: O conto "O caso da lanterna desaparecida" foi publicado por Notibras no dia 26/6/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-intrincado-caso-da-lanterna-desaparecida/
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