segunda-feira, 2 de junho de 2025

O primeiro quase encontro

     

Janete foi despertada pelo beijo suave da cortina no rosto. Sorriu antes de abrir os olhos, certa de que nada poderia dar errado naquele dia. Quarta-feira, expediente reduzido por conta de feriado prolongado, a mulher havia programado um encontro furtivo com Adilson, colega de trabalho. Furtivo, sim, mas não por motivo de traição, pois, até onde constava, nenhum dos dois era comprometido. Pura questão de discrição, ainda mais porque a conversa corria comprida na empresa. 

          Sentou na cama, calçou os chinelos, espreguiçou-se com os braços abertos, moveu a cabeça de um lado para outro, ergueu-se. Foi até a janela, observou o porteiro do prédio regando o gramado e as flores em frente. Teve tempo de se perguntar se as plantas estavam gostando da água fria àquela hora da manhã. No entanto, antes que pudesse imaginar a resposta para tal dúvida, foi até a cozinha preparar o ligeiro café solúvel diário.

          Com a xícara próxima aos lábios, sentiu o aroma conhecido e arriscou-se sobre o líquido fumegante. Janete precisava daquele estímulo todos os dias, como se a fizesse abrir as janelas para dar passagem ao ânimo, que corria solto por todo seu corpo trigueiro. Uma afronta a qualquer desânimo. 

          A mulher, debaixo do chuveiro, contemplava os planos para o encontro de logo mais. Será que ele beija bem? Hum! Como será o toque de suas mãos? Ela notava os dedos longos do sujeito, dedos de pianista, como aprendera na infância com a avó materna. 

          Quanto se deu conta, já estava dando os últimos retoques diante do amplo espelho do quarto. Girou o corpo levemente para ver se o vestido vermelho estava sutilmente ajustado nas partes mais chamativas, quando o telefone tocou. Ela olhou a tela do celular e viu que era o quase namorado.

          — Janete, desculpe, mas surgiu um imprevisto.

          — Imprevisto?

          — É.

          — O que aconteceu?

          — Estou indo pra Goiânia agora, minha mãe me pediu para ir buscá-la. Ela vai fazer uns exames hoje à tarde aqui em Brasília.

          — Ah, tá!

          — Podemos marcar nosso encontro pra outro dia?

          — Se não tem outro jeito...

          — Obrigado. Tenha um bom dia.

          — Bom dia pra quem? 

          — Ué, pra você!

          — Hum!

          — Você tá bem, né?

          — Adilson, me arrumei como se fosse sexta-feira. Agora estou linda e triste.

  • Nota de esclarecimento: O conto "O primeiro quase encontro" foi publicado por Notibras no dia 2/6/2025.
  • https://www.notibras.com/site/janete-desperta-feliz-para-primeiro-encontro-com-um-colega-de-trabalho/

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