Janete foi despertada pelo beijo suave da cortina no rosto. Sorriu
antes de abrir os olhos, certa de que nada poderia dar errado naquele dia.
Quarta-feira, expediente reduzido por conta de feriado prolongado, a mulher
havia programado um encontro furtivo com Adilson, colega de trabalho. Furtivo,
sim, mas não por motivo de traição, pois, até onde constava, nenhum dos dois
era comprometido. Pura questão de discrição, ainda mais porque a conversa
corria comprida na empresa.
Sentou na cama, calçou os chinelos,
espreguiçou-se com os braços abertos, moveu a cabeça de um lado para outro,
ergueu-se. Foi até a janela, observou o porteiro do prédio regando o gramado e
as flores em frente. Teve tempo de se perguntar se as plantas estavam gostando
da água fria àquela hora da manhã. No entanto, antes que pudesse imaginar a
resposta para tal dúvida, foi até a cozinha preparar o ligeiro café solúvel
diário.
Com a xícara próxima aos lábios, sentiu o
aroma conhecido e arriscou-se sobre o líquido fumegante. Janete precisava
daquele estímulo todos os dias, como se a fizesse abrir as janelas para dar
passagem ao ânimo, que corria solto por todo seu corpo trigueiro. Uma afronta a
qualquer desânimo.
A mulher, debaixo do chuveiro, contemplava os
planos para o encontro de logo mais. Será que ele beija bem? Hum! Como será o
toque de suas mãos? Ela notava os dedos longos do sujeito, dedos de pianista,
como aprendera na infância com a avó materna.
Quanto se deu conta, já estava dando os
últimos retoques diante do amplo espelho do quarto. Girou o corpo levemente
para ver se o vestido vermelho estava sutilmente ajustado nas partes mais
chamativas, quando o telefone tocou. Ela olhou a tela do celular e viu que era
o quase namorado.
— Janete, desculpe, mas surgiu um imprevisto.
— Imprevisto?
— É.
— O que aconteceu?
— Estou indo pra Goiânia agora, minha mãe me
pediu para ir buscá-la. Ela vai fazer uns exames hoje à tarde aqui em Brasília.
— Ah, tá!
— Podemos marcar nosso encontro pra outro dia?
— Se não tem outro jeito...
— Obrigado. Tenha um bom dia.
— Bom dia pra quem?
— Ué, pra você!
— Hum!
— Você tá bem, né?
— Adilson, me arrumei como se fosse
sexta-feira. Agora estou linda e triste.
- Nota de esclarecimento: O conto "O primeiro quase encontro" foi publicado por Notibras no dia 2/6/2025.
- https://www.notibras.com/site/janete-desperta-feliz-para-primeiro-encontro-com-um-colega-de-trabalho/
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