O velho Ataliba, mal acordou, buscou o maço na cabeceira. Vazio. Nem se lembrava de que havia fumado o último cigarro antes de adormecer. Sem alternativa, tratou de calçar o chinelo e caminhar até a venda na esquina.
— Bom dia, Antônio.
— Bom dia, Ataliba.
— Quatro maços.
— Só isso?
— Me vê um
isqueiro também.
Já na calçada,
acendeu o primeiro cigarro do dia. Após algumas boas tragadas, sentiu a alma
retornar ao corpo. Foi aí que percebeu um jovem se aproximar de modo suspeito.
Ataliba, apesar de já passado dos 70 anos, era parrudo o suficiente para
intimidar possíveis assaltantes.
— Ô, velho, me
dá um cigarro aí!
— Seu pai não te
deu educação?
— Tenho pai não.
Ataliba sentiu um calafrio
subir por toda a espinha. Manteve o olhar firme sobre o seu mais novo desafeto,
quando, então, ouviu outro desaforo.
— Só não
te dou um murro porque você é idoso.
— O quê?
— O que o
quê, velho?
Como
Ataliba já havia atravessado o Rubicão, não tinha mais volta.
— Pois,
venha, moleque!
E lá foi
o velho, punhos em riste, em direção ao desafiante. Por sorte, o rapaz saiu
correndo. Ataliba sentiu o maior alívio e, então, tratou de voltar o mais
rápido possível para seu o apartamento.
Já acomodado na poltrona da sala, pensou em voz alta: "Cigarro mata!"
- Nota de esclarecimento: O conto "Cadê meu cigarro" foi publicado por Notibras no dia 5/6/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-dia-em-que-o-velho-ataliba-entrou-em-desespero/
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