quinta-feira, 5 de junho de 2025

Cadê meu cigarro?

         

         O velho Ataliba, mal acordou, buscou o maço na cabeceira. Vazio. Nem se lembrava de que havia fumado o último cigarro antes de adormecer. Sem alternativa, tratou de calçar o chinelo e caminhar até a venda na esquina. 

          — Bom dia, Antônio.

          — Bom dia, Ataliba. 

          — Quatro maços.

      — Só isso?

       — Me vê um isqueiro também.

      Já na calçada, acendeu o primeiro cigarro do dia. Após algumas boas tragadas, sentiu a alma retornar ao corpo. Foi aí que percebeu um jovem se aproximar de modo suspeito. Ataliba, apesar de já passado dos 70 anos, era parrudo o suficiente para intimidar possíveis assaltantes.

      — Ô, velho, me dá um cigarro aí!

      — Seu pai não te deu educação?

     — Tenho pai não.

    Ataliba sentiu um calafrio subir por toda a espinha. Manteve o olhar firme sobre o seu mais novo desafeto, quando, então, ouviu outro desaforo.

       — Só não te dou um murro porque você é idoso.

        — O quê?

        — O que o quê, velho?

        Como Ataliba já havia atravessado o Rubicão, não tinha mais volta. 

        — Pois, venha, moleque!

      E lá foi o velho, punhos em riste, em direção ao desafiante. Por sorte, o rapaz saiu correndo. Ataliba sentiu o maior alívio e, então, tratou de voltar o mais rápido possível para seu o apartamento. 

        Já acomodado na poltrona da sala, pensou em voz alta: "Cigarro mata!"

  • Nota de esclarecimento: O conto "Cadê meu cigarro" foi publicado por Notibras no dia 5/6/2025.
  • https://www.notibras.com/site/o-dia-em-que-o-velho-ataliba-entrou-em-desespero/

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