domingo, 5 de janeiro de 2025

Zuleica e o mexerico

    

        Zuleica era afeita a falar da vida alheia. De tão tarimbada, comentava qualquer assunto que tivesse oportunidade de ouvir e, caso não o achasse suficientemente palatável, acrescentava tempero a gosto do freguês. Uma pimentinha aqui, um punhado de coentro ali, um tanto de pimenta acolá, sem falar do sal, que, vez ou outra, fazia a pressão arterial dos ouvintes se elevar a tal nível que, não raro, sobrava cobras e lagartos para todo lado.  

          Quem não se conformava com a mania da mulher era justamente Heraldo, o marido. Cansado de passar desconforto por conta das fofocas da esposa, o gajo apertou o passo para chegar logo ao lar, doce lar. Mal abriu a porta, flagrou a amada tagarelando maledicências com Neide, vizinha do andar acima.

          — Que coisa, Zuleica!

        — Pra você ver, mulher! Não dá pra confiar em ninguém mais neste mundo.

          — É verdade! Coitado do marido da Claudete. 

          — Coitado nada! Aquele ali também não é flor que se cheire. 

          — Sério?

          — Hum! Se eu te conto, tu cai dura aqui!

          — Pois conte, mulher!

          De tão entretida com a conversa, as duas amigas quase não perceberam a chegada do homem. Ele beijou o rosto da Zuleica e cumprimentou a convidada.

          — Oi, amor! Chegou mais cedo hoje.

          — É que não estava me sentindo bem. 

          — Hum! Aposto que andou comendo besteira de novo.

          — Estou melhor agora.

          — Hum! Vou preparar um chá de boldo pra você. Quer também, Neide?

          — Obrigada, Zuleica. Mas preciso ir, que o Julião já, já chega também. 

          Após Neide sair, Heraldo, cara amarrada, acomodou-se no sofá. 

          — Que cara é essa, meu bem?

          — Nada.

          — Como não é nada?

          — Zuleica, que mania feia de ficar futricando a vida dos outros!

          — Hum! 

          — Quando é que você vai parar com isso? O povo vive comentando.

          — Heraldo, meu querido, se não fosse o mexerico, a humanidade ainda estaria grunhindo.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Zuleica e o mexerico" foi publicado por Notibras no dia 5/1/2025.
  • https://www.notibras.com/site/zuleika-fofoqueira-justifica-intrigas-como-ato-de-evolucao-da-humanidade/

2 comentários:

  1. Eta Zuleika fofoqueira, além de fofocas ainda apimentava para por lenha na fogueira. Amei.

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