Leopoldo, proprietário da afamada
oficina Magnu, é referência de causos vividos, contados, ouvidos e historiados,
conforme um dos seus clientes, o Gilmarildo, gosta de propagar aos quatro
ventos. Antes de começar a contar um dos causos que provocou alvoroço, vale a
pena situar o leitor sobre como as coisas funcionam por lá.
O nome do estabelecimento surgiu como uma
brincadeira do Leopoldo, que gosta de dizer que o sujeito entra na oficina magnata,
mas sai nu. Não que os preços praticados sejam tão exorbitantes. O problema é
outro, já que o Leopoldo, como todo bom mecânico, sempre encontra um defeito
novo para prolongar a estadia do veículo no local. Lembrando que, apesar de
raros, os atrasos ocorrerem com bastante frequência. Por isso, Leopoldo tem o
providencial hábito de mudar os veículos de lugar para dar a impressão de que
está trabalhando ininterruptamente.
Além de atrapalhado com os
prazos, o mecânico gosta de dar uma de moralista para cima da freguesia mais
exaltada.
— Seu Jorge, quem tem um só carro não tem
nenhum.
Sem falar que Leopoldo também é famoso por
viver endividado. No entanto, antes que alguém fale que ele não sabe controlar
as próprias finanças, o sujeito mete essa:
— Calixto, meu amigo, acumular dinheiro é
coisa repugnante. Além do mais, caixão não tem gaveta, mortalha não tem bolso e
só se vive uma vez.
Além do cachorro Caneco, vira-lata da pior
estirpe, que prefere fazer vista grossa a morder o calcanhar de qualquer
possível gatuno, também trabalha no local o José Raimundo, vulgo Boquinha. Um
tipo engraçado, não pelas piadas, mas por causa do mau humor, que ele afirma
categoricamente ter herdado do avô.
Por falar no Boquinha, lá estava o sujeito,
marreta na mão, consertando um escapamento de uma camionete. Bate daqui,
bate dali, o barulho tomou conta da oficina. Foi então que o Alexandre, cliente
dos mais chatos, do alto dos seus 80 anos, começou a ficar irritado.
O velho, conhecendo o
temperamento do mecânico, perguntou com a maior educação se ele poderia fazer
menos barulho. Ih, não adiantou, pois não apenas o seu Alexandre, mas todos ali
ouviram o desaforo do Boquinha.
— Ô, seu Alexandre, se quiser ouvir
sussurros e gemidos, procure a casa da luz vermelha, pois aqui é oficina e tem
barulho, sim!
Silêncio total, pois as testemunhas ficaram
tensas esperando a reação do coroa. Foi aí que o seu Alexandre começou a
gargalhar, e todos, aliviados, desandaram a rir, ainda mais quando perceberam
que a prótese dentária do octogenário começou a sair do lugar.
- Nota de esclarecimento: O conto "Leopoldo, Boquinha e seu Alexandre" foi publicado por Notibras no dia 29/1/2025.
- https://www.notibras.com/site/leopoldo-boquinha-e-seu-alexandre-cliente-que-ri-ate-os-dentes-cairem/
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