quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Leopoldo, Boquinha e seu Alexandre

    

Leopoldo, proprietário da afamada oficina Magnu, é referência de causos vividos, contados, ouvidos e historiados, conforme um dos seus clientes, o Gilmarildo, gosta de propagar aos quatro ventos. Antes de começar a contar um dos causos que provocou alvoroço, vale a pena situar o leitor sobre como as coisas funcionam por lá. 

          O nome do estabelecimento surgiu como uma brincadeira do Leopoldo, que gosta de dizer que o sujeito entra na oficina magnata, mas sai nu. Não que os preços praticados sejam tão exorbitantes. O problema é outro, já que o Leopoldo, como todo bom mecânico, sempre encontra um defeito novo para prolongar a estadia do veículo no local. Lembrando que, apesar de raros, os atrasos ocorrerem com bastante frequência. Por isso, Leopoldo tem o providencial hábito de mudar os veículos de lugar para dar a impressão de que está trabalhando ininterruptamente. 

          Além de atrapalhado com os prazos, o mecânico gosta de dar uma de moralista para cima da freguesia mais exaltada.

          — Seu Jorge, quem tem um só carro não tem nenhum.

          Sem falar que Leopoldo também é famoso por viver endividado. No entanto, antes que alguém fale que ele não sabe controlar as próprias finanças, o sujeito mete essa:

          — Calixto, meu amigo, acumular dinheiro é coisa repugnante. Além do mais, caixão não tem gaveta, mortalha não tem bolso e só se vive uma vez.

          Além do cachorro Caneco, vira-lata da pior estirpe, que prefere fazer vista grossa a morder o calcanhar de qualquer possível gatuno, também trabalha no local o José Raimundo, vulgo Boquinha. Um tipo engraçado, não pelas piadas, mas por causa do mau humor, que ele afirma categoricamente ter herdado do avô.

          Por falar no Boquinha, lá estava o sujeito, marreta na mão, consertando um escapamento de uma camionete. Bate daqui, bate dali, o barulho tomou conta da oficina. Foi então que o Alexandre, cliente dos mais chatos, do alto dos seus 80 anos, começou a ficar irritado.

O velho, conhecendo o temperamento do mecânico, perguntou com a maior educação se ele poderia fazer menos barulho. Ih, não adiantou, pois não apenas o seu Alexandre, mas todos ali ouviram o desaforo do Boquinha.

          — Ô, seu Alexandre, se quiser ouvir sussurros e gemidos, procure a casa da luz vermelha, pois aqui é oficina e tem barulho, sim!

          Silêncio total, pois as testemunhas ficaram tensas esperando a reação do coroa. Foi aí que o seu Alexandre começou a gargalhar, e todos, aliviados, desandaram a rir, ainda mais quando perceberam que a prótese dentária do octogenário começou a sair do lugar.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Leopoldo, Boquinha e seu Alexandre" foi publicado por Notibras no dia 29/1/2025.
  • https://www.notibras.com/site/leopoldo-boquinha-e-seu-alexandre-cliente-que-ri-ate-os-dentes-cairem/

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