sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Evelina e a arte da sedução

             Evelina nascera com a beleza virada para Lua, o que fazia com que todos os olhares se voltassem para ela, que passava faceira, ciente dos próprios atributos. No entanto, não era apenas as belas feições que faziam daquela mulher alvo de cobiça, inveja e discórdia. É que a beldade carregava consigo a arte da sedução. 

               Quando percebeu esse dom, Evelina sorriu diante do espelho e teve certeza de que jamais sofreria por amor. Na verdade, de tanto usar tal poder, nem tinha espaço para se afeiçoar a ninguém. O problema é que os gajos choramingavam para que ela não os abandonasse. Uma chatice, mas que a lindona parecia levar numa boa. 

               Uma das benesses de seu estilo de vida era a quantidade de presentes recebida. E não pense você que eram apenas bichos de pelúcia e caixas de bombons finos, que ela presenteava as amigas desafortunadas de amores. Evelina ganhava tantas joias, que poderia até abrir uma joalheria. Isso sem falar dos automóveis e até de dois apartamentos dados por amantes milionários. 

               Se Evelina adorava receber presentes? Ah, até que gostava. No entanto, isso não era o mote maior para usar seu charme sobre os homens. Era a conquista que lhe dava prazer. Tanto é que, não raro, ela procurava novos desafios, como aconteceu por esses dias.

               O novo funcionário da mesma repartição onde Evelina trabalhava despertou a atenção da gata. Adílio, tipo bonitão, 34 anos, recém-casado, só tinha olhos para Laura, a mulher dos seus sonhos. E a recíproca era verdadeira, como provavam os tórridos momentos de amor. O sujeito se tornou um troféu a ser conquistado e, não tardou, Evelina começou a se insinuar. 

               Não foi preciso mais do que uma gingada de quadril para que Adílio se sentisse inebriado. E também não foi necessário algo além do que palavras diretas, todas ditas por Evelina diante do sujeito completamente aparvalhado.

               — Quero dar uma fugida com você na hora do almoço.

               Sem ter como refutar tamanha oferta, Adílio apenas teve tempo de escovar os dentes pouco antes de sair. Queria se certificar de que o hálito não desagradaria a colega. Depois de conferir o próprio bafo, sorriu aquele sorriso nervoso em frente ao espelho e, discretamente, passou pela mesa de Evelina. Ela notou que a sua nova presa havia sido fisgada e, então, levantou-se e foi encontrá-la na calçada. 

              De mãos dadas, o novo casal rumou para um discreto hotel ali perto. Mal entraram, não perderam tempo, mesmo porque precisariam retornar para o serviço para cumprir o resto do expediente. 

              — Te amo!

              — Ama?

              — Amo!

              — Deixa de bobagem, Adílio.

              — Não é bobagem.

              — Óbvio que é.

              Apesar das falas divergentes, os dois passaram a buscar o mesmo hotel durante quase duas semanas. No trabalho, ninguém pareceu desconfiar. Entretanto, Laura percebeu que o marido andava com olhar disperso. Como não era boba, tratou de investigar o caso.

               Mais alguns dias, a esposa de Adílio conseguiu desvendar o mistério. Furiosa, pensou em descarregar tudo sobre o marido. Todavia, algo a fez ir atrás da tal fulana destruidora de lares. E lá foi a traída bater à porta do apartamento de Evelina.

               Assim que abriu a porta, Evelina se deparou com aquela face repleta de cólera. Invés de entrar em desespero, a tranquilidade se instalou em seu âmago. Seria ela capaz de usar as mesmas armas com mulheres? Ademais, sentiu-se atraída pela figura enraivecida. 

               Laura, a princípio ríspida, logo se viu em uma emboscada. Sem entender como é que aquilo teria acontecido, lançou um olhar de surpresa e desejo para a amante do marido.

               — Evelina, por acaso você está tentando me seduzir?

               Não se sabe ao certo o que aconteceu depois disso, mas, até onde se tem notícia, o casamento de Laura e Adílio está de vento e popa. E, desde então, os dois recebem a visita de Evelina para jantar. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Evelina e a arte da sedução" foi publicado por Notibras no dia 3/1/2025.
  • https://www.notibras.com/site/evelina-com-sua-arte-de-seducao-sabe-levar-na-manha-ate-esposa-traida/

2 comentários:

  1. Amei o texto, Evelina não perdoa nada. Aproveita de sua beleza.

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  2. Pois é, Luzia, a Evelina é muito ciente da própria capacidade de sedução. Abraço!

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