Quando percebeu esse dom, Evelina sorriu
diante do espelho e teve certeza de que jamais sofreria por amor. Na verdade,
de tanto usar tal poder, nem tinha espaço para se afeiçoar a ninguém. O
problema é que os gajos choramingavam para que ela não os abandonasse. Uma
chatice, mas que a lindona parecia levar numa boa.
Uma das benesses de seu estilo de vida
era a quantidade de presentes recebida. E não pense você que eram apenas bichos
de pelúcia e caixas de bombons finos, que ela presenteava as amigas
desafortunadas de amores. Evelina ganhava tantas joias, que poderia até abrir
uma joalheria. Isso sem falar dos automóveis e até de dois apartamentos dados
por amantes milionários.
Se Evelina adorava receber presentes? Ah,
até que gostava. No entanto, isso não era o mote maior para usar seu charme
sobre os homens. Era a conquista que lhe dava prazer. Tanto é que, não raro,
ela procurava novos desafios, como aconteceu por esses dias.
O novo funcionário da mesma repartição
onde Evelina trabalhava despertou a atenção da gata. Adílio, tipo bonitão, 34
anos, recém-casado, só tinha olhos para Laura, a mulher dos seus sonhos. E a
recíproca era verdadeira, como provavam os tórridos momentos de amor. O sujeito
se tornou um troféu a ser conquistado e, não tardou, Evelina começou a se
insinuar.
Não foi preciso mais do que uma gingada
de quadril para que Adílio se sentisse inebriado. E também não foi necessário
algo além do que palavras diretas, todas ditas por Evelina diante do sujeito
completamente aparvalhado.
— Quero dar uma fugida
com você na hora do almoço.
Sem ter como refutar
tamanha oferta, Adílio apenas teve tempo de escovar os dentes pouco antes de
sair. Queria se certificar de que o hálito não desagradaria a colega. Depois de
conferir o próprio bafo, sorriu aquele sorriso nervoso em frente ao espelho e,
discretamente, passou pela mesa de Evelina. Ela notou que a sua nova presa
havia sido fisgada e, então, levantou-se e foi encontrá-la na calçada.
De mãos dadas, o
novo casal rumou para um discreto hotel ali perto. Mal entraram, não perderam
tempo, mesmo porque precisariam retornar para o serviço para cumprir o resto do
expediente.
— Te amo!
— Ama?
— Amo!
— Deixa de bobagem,
Adílio.
— Não é bobagem.
— Óbvio que é.
Apesar das falas
divergentes, os dois passaram a buscar o mesmo hotel durante quase duas
semanas. No trabalho, ninguém pareceu desconfiar. Entretanto, Laura percebeu
que o marido andava com olhar disperso. Como não era boba, tratou de investigar
o caso.
Mais alguns dias, a
esposa de Adílio conseguiu desvendar o mistério. Furiosa, pensou em descarregar
tudo sobre o marido. Todavia, algo a fez ir atrás da tal fulana destruidora de
lares. E lá foi a traída bater à porta do apartamento de Evelina.
Assim que abriu a porta, Evelina se
deparou com aquela face repleta de cólera. Invés de entrar em desespero, a
tranquilidade se instalou em seu âmago. Seria ela capaz de usar as mesmas armas
com mulheres? Ademais, sentiu-se atraída pela figura enraivecida.
Laura, a princípio
ríspida, logo se viu em uma emboscada. Sem entender como é que aquilo teria
acontecido, lançou um olhar de surpresa e desejo para a amante do marido.
— Evelina, por acaso você está
tentando me seduzir?
Não se sabe ao certo o que aconteceu depois disso, mas, até onde se tem notícia, o casamento de Laura e Adílio está de vento e popa. E, desde então, os dois recebem a visita de Evelina para jantar.
- Nota de esclarecimento: O conto "Evelina e a arte da sedução" foi publicado por Notibras no dia 3/1/2025.
- https://www.notibras.com/site/evelina-com-sua-arte-de-seducao-sabe-levar-na-manha-ate-esposa-traida/
Amei o texto, Evelina não perdoa nada. Aproveita de sua beleza.
ResponderExcluirPois é, Luzia, a Evelina é muito ciente da própria capacidade de sedução. Abraço!
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