sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Gratidão roubada

          Monique, mal entrou na quitanda, voltou o rosto para trás. Nada! Nem sinal do rapaz. Aliviada, foi em direção à prateleira de laranja e selecionou meia dúzia. Tamanho nervosismo parece que não foi notado pelos outros fregueses, muito menos pelo do estabelecimento e o empregado, que estava atendendo uma senhora.

          — São só as laranjas?

          — Ah, sim!

          — Quatro e setenta.

          — Débito.

          A mulher, antes de sair da loja, olhouu para os dois lados, olhou adiante. O jovem havia mesmo desaparecido. Se contasse, ninguém acreditaria. Mesmo assim, foi o fez assim que chegou ao pequeno que dividia com Clarice.

          — Você não vai acreditar.

          — No quê?

          — Lembra que te falei de um cara que me ajudou na semana passada?

          — Hum... Não.

          — Clarice, você é mesmo uma cabeça-de-vento.

          — São os meus alunos que me tiram do sério.

          As duas riram.

          — Quer café?

          — Quero te contar o que aconteceu.

          — Tá. Tô ouvindo. Mas quer café?

          — Quero. Colocou açúcar?

          — Não, né! 

          — Ah, bom!

          — Tá, mas e a história?

          — Clarice, eu te falei, sim, do cara que me ajudou a trocar o pneu.

          — Ah, tá! 

          — Pois é, menina! Esse mesmo!

          — E o que tem ele?

          — Você acredita que ele me assaltou hoje?

          — Sério?

          — Sério!

          — Que coisa!

          — Pois é, Clarice! Assim que eu o encontrei, quis agradecê-lo, mas ele foi mais ligeiro. Levou minha carteira e parte da minha gratidão.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Gratidão roubada" foi publicado por Notibras no dia 31/1/2025.
  • https://www.notibras.com/site/editoria/quadradinho-em-foco/

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