— Pai, mamãe morreu porque era o tempo dela.
— Bobagem, Álvaro. Tenho aqui comigo que foi
por implicância.
Sem mais ter a quem recorrer, Álvaro
revolveu deixar o pai na oficina do Leopoldo, já que o ambiente costumava ser
animado, parte por conta do dono, parte por conta da clientela. E, para
surpresa do homem, Zé Roberto pareceu que se enturmou de imediato com a galera.
Tanto é que, quando o idoso não aparecia, sempre havia alguém para perguntar por
sua ausência.
— Ué, cadê o coroa?
— Ou bateu as botas ou, então,
deve ter arrumado alguma namorada.
Seja uma coisa ou outra, até
mesmo uma terceira e, quiçá, uma quarta ou nenhuma delas, sexta-feira era dia
de churrasco na oficina do Leopoldo. E, não tardou, surgiu quase do nada o velho
Zé Roberto, que foi recebido com salvas de palmas pelos presentes.
— Por onde andou, coroa?
— O povo aqui já tava falando mal
de você.
Zé Roberto, vendo aquela maneira
carinhosa dos confrades, sorriu todo o sorriso que a dentadura lhe permitia. Em
seguida, fez a costumeira pergunta para Leopoldo.
— E aí, vai arrumar quantos
carros hoje?
— Coroa, se fosse outro dia,
diria que seriam dez. Mas hoje é sexta-feira, e, se conseguir mexer em dois ou
três, já vai estar de bom tamanho.
Enquanto todos riam, a carne já era
colocada sobre a grelha, e a cerveja era bebida com gosto. Só que, naquele dia,
Zé Roberto estava uma verdadeira esponja e, não tardou, tomou quase todas as
latinhas. Resultado, ficou pra lá de Bagdá.
Ninguém ficou com raiva do velho. Por
outro lado, ficaram preocupados com a possibilidade de Álvaro impedir que o pai
frequentasse a oficina. Por isso, Leopoldo, assim que a confraternização
acabou, fez questão de deixar o Zé Roberto em casa.
— Coroa, vê se não dá
mancada ao entrar.
— Pode deixar, Leopoldo. Sou
mais esperto do que o Álvaro. Disfarço tão bem, que ele nem vai perceber que
tomei algumas.
— Ah, é? Então, faz um quatro aí.
— Hum! Nunca fui bom em matemática.
Após quase duas semanas sem que Zé
Roberto aparecesse na oficina, Leopoldo foi ver o que teria acontecido. Tocou a
campainha da casa do amigo, mas quem atendeu foi o Álvaro.
— Oi, Álvaro, tudo bem?
— Tudo.
— Cadê o seu pai? Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu.
— Algo sério? Ele está doente?
— Não.
— E o que ele tem, então?
— Anda muito animadinho pro meu gosto.
Por isso, está de castigo até o final do mês.
- Nota de esclarecimento: O conto "Zé Roberto, o viúvo" foi publicado por Notibras no dia 9/2/2025.
- https://www.notibras.com/site/ze-roberto-viuvo-93-se-anima-com-uma-geladinha-e-pega-um-mes-de-castigo/
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