É engraçado que, ao
escrever este texto, percebo que a minha filha pequenina, no auto do seu quase
um ano e meio, já foi tema das minhas crônicas quase tanto quanto minha amada
esposa, a famosa Dona Irene. Serei mais um pai babão? Creio que estou longe
desse estereótipo, apesar de considerar minhas três meninas um bocado acima da
curva. Enquanto as maiores se destacam nas respectivas áreas (advocacia e
biotecnologia), a menor da trupe me ganha com expressões dos mais variados
tipos.
Quero falar um pouco sobre crônicas. Na
verdade, prefiro escrever contos e romances, apesar de não resistir à tentação
de relatar coisas do dia a dia. Confesso até que tinha certo preconceito em
relação a esse gênero literário, talvez por causa do descompromisso com a
seriedade. Seria eu, então, um escritor circunspecto? Provavelmente, tudo culpa
de dois escritores que admiro demais: Machado de Assis e Daniel Marchi.
O primeiro é o mais imortal dos imortais,
independentemente de ter sido um dos fundadores e membros da Academia
Brasileira de Letras. Machado de Assis é muito maior do que a ABL, disso não
tenho a menor dúvida. Ainda hoje, fico admirado como é que um sujeito pode ser
tão bom e possuir uma obra deveras extensa. Gênio! Simplesmente o maior gênio
literário na minha opinião.
Tá, e o Daniel Marchi? Como
tenho muita liberdade com ele, já que somos praticamente primos, falo sem
qualquer restrição desse poeta e escritor contemporâneo. Provavelmente, o Dan
(olha a intimidade) é o mais talentoso autor do nosso tempo, e rivalizaria com
Machado de Assis, caso não fosse por um pequeno detalhe, que, na verdade, é
muito maior do que a distância do folclórico "é logo ali" dos
nascidos em Minas Gerais. É que o meu amigo, além de levar uma vida mais
corrida do que o Ligeirinho e o Papa-Léguas, é acometido, de quando em vez,
pela preguiça.
Não sei se você é fã do Martinho da Vila, afamado sambista,
cuja voz arrastada me faz lembrar da demora do Dan para escrever um conto, uma
crônica ou uma poesia. O bom é que, quando sai, o texto é impecável. Creio até
que o próprio Machado de Assis, cujos restos mortais repousam na sede da ABL,
ficaria com uma pontinha de inveja.
Ah, mas deixemos a polêmica de lado, pois comecei esta
crônica para falar da cara de felicidade da minha caçula toda vez que ganha um
picolé feito especialmente para ela. Se bem que, não raro, dou cá minhas
mordidinhas, a despeito das broncas da Dona Irene.
— Edu, não tem vergonha de roubar o picolé da Malulinha?
- Nota de esclarecimento: A crônica "Picolé, Machado de Assis e Daniel Marchi" foi publicada por Notibras no dia 27/2/2025.
- https://www.notibras.com/site/malu-picole-machado-de-assis-e-daniel-marchi/
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