Lembro-me bem da primeira vez que estive em
São José do Brejo do Cruz, aqui na Paraíba. Foi pouco antes das regras me
chegarem. Acompanhei meu pai, que foi vender a sobra da farinha de macaxeira.
Ele tratou com um sujeito, dono de comércio, que pagou uma ninharia por tantas
horas de trabalho de sol a sol, sem contar as léguas vencidas para chegar
àquele lugar.
Não sei se o homem, um tipo encorpado e
suarento, ficou com dó ou, então, quis garantir que papai retornasse na próxima
colheita. O certo é que nos convidou para almoçar. Arroz, feijão de corda e um tanto
de farinha. Comida conhecida, mas em quantidade muito maior do que estava
acostumada.
Devo ter arregalado meus grandes olhos
castanhos, pois a cozinheira, talvez tocada por minha magreza, foi generosa.
Encheu meu prato igual ao de papai. Mal me acostumei com o peso, andei com
cautela de veado-catingueiro para não deixar nem farelo cair.
Sentada ao lado de papai num canto, trocamos
olhares. Não me atrevi a tocar na comida até que ele me cutucou o ombro e me
disse:
— Pode comer, Maria.
Tratei de obedecer e comecei a levar aquela
comida à boca, quando dois homens chegaram. O mais alto se virou para o menor,
como se espantado pelo que viu. Em seguida, se dirigiu à cozinheira:
— Raimunda, quero um prato de pedreiro
que nem o daquela menina ali.
Olhei para meu pai, que me mandou
continuar comendo. Naquele tempo, ainda desconhecia o sentido das palavras
daquele homem. No entanto, quando descobri, percebi que, talvez, ele não
soubesse o real significado da fome.
- Nota de esclarecimento: O conto "A menina e o prato de pedreiro" foi publicado por Notibras no dia 21/2/2025.
- https://www.notibras.com/site/a-menina-da-paraiba-e-o-seu-primeiro-o-prato-de-pedreiro/
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