O que quero dizer é que Shirlei não era o
que se pode chamar de gente popular. Não era a mais bonita, não era a mais
inteligente, não era a mais charmosa, não era a mais simpática nem a mais
engraçada e, por fim, estava longe de ser a mais carismática. Para piorar a
situação, possuía um olhar oblíquo, agravado por rugas no canto direito dos
lábios, que lhe conferiam certo ar de descaso por qualquer vivente, com exceção
de Juliana.
Juliana? Parece que a mulher reunia tudo o
que faltava na amiga. Carisma, então, era o que mais lhe sobrava. Tanto é que
era possível enxergá-lo fluindo por todos os poros da pele macia e agradável da
garota, ainda mais quando ela era atingida pelos raios de sol. Tem gente que é
assim, e Juliana pertencia à essa estirpe privilegiada.
Por um desses acasos que acontecem sempre,
lá estava eu sentada à mesa ao lado das duas mulheres em uma cafeteria cheia de
atrativos na ampla vitrine. Gulosa que sou, pedi uma empada de camarão, outra
de palmito e um bombocado para acompanhar meu café coado com adoçante. Afinal,
precisava me manter firme na dieta, já que o verão estava chegando, e eu havia
feito plano de desfilar minha barriguinha sarada na Água Mineral, que fica no
Parque Nacional aqui em Brasília.
Não sou do tipo que
fica de butuca naquilo que não me diz respeito. Entretanto, graças a Deus,
nasci com os ouvidos perfeitos e, por tal condição, foi impossível não escutar
o singular interlúdio que se deu. Aliás, não apenas singular, como também
deveras franco por parte da esplendorosa Juliana.
— Ju, o que temos é
tão lindo.
— Hum...
— Você não acha?
— É.
— Ju, posso te fazer
uma pergunta?
— Hum...
— Posso?
— Sim.
— O que você pensa
sobre mim?
— Shirlei, por favor, não vamos
estragar a nossa amizade.
- Nota de esclarecimento: O conto "Amigas, mas nem tanto" foi publicado por Notibras no dia 20/2/2025.
- https://www.notibras.com/site/confidencia-sobre-ser-coloca-amizade-em-risco/
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