Aos 23 anos, entrei no serviço público,
onde permaneci por quase 40 anos. Não que eu não pudesse me aposentar antes,
mas levei muito tempo para perceber que havia me tornado escravo do dinheiro.
E, por mais que eu ganhasse por conta das horas extras, mais e mais me
embrenhava em dívidas decorrentes de compras desnecessárias. Fúteis, na
verdade, já que consumia sem sentir nada além do que prazeres efêmeros.
Decidido, acordei naquela segunda-feira e
fui direto ao RH.
— Cansei.
— Como assim, Jonas?
— Quero me aposentar.
— Mas você é tão novo.
— Novo? Novo pra quê?
— Pra deixar de trabalhar.
Não quis prolongar aquela discussão sem
sentido e, então, assinei toda papelada para, finalmente, buscar as minhas
importâncias. Se fiquei com medo? Um pouco, mas a liberdade assusta, ainda mais
para quem estava acostumado a grades.
Meu velho carro está
encostado na garagem. Sei que ainda funciona, mas deixou de se encaixar no
estilo de vida que adotei. Não pense você que pretendo comprar um modelo novo.
Talvez uma bicicleta ou, então, continuarei a minha jornada a pé.
Não desejo badalações, não sou afeito a extravagâncias, que parecem fetiches de tanta gente. Quero apenas uma cadeira confortável para que eu possa me sentar diante do mar enquanto leio mais um livro. Se a cadeira me faltar, não tem problema, sento na areia.
- Nota de esclarecimento: O conto "Desapego" foi publicado por Notibras no dia 25/12/2024.
- https://www.notibras.com/site/cansado-da-esplanada-jonas-pede-aposentadoria-e-parte-para-a-praia/
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