— Seu pai, eu e nosso pai adorávamos
viajar para Cabo Frio, onde acampávamos bem em frente ao mar.
               — Puxa, tio, que legal!
               — E era mesmo, Juninho. Ainda mais porque
amávamos ir pescar nas pedras com o papai.
      
       Paulo, ao ouvi
aquelas palavras saídas dos lábios do irmão, não resistiu e entrou na conversa.
      
       — Não acredite em
tudo que seu tio diz, crianças.
      
       — Por quê, papai?
      
       — Quem gostava de
pescar era o meu pai e seu tio.
      
       Pedro pareceu
surpreso com a revelação. Tanto é que tratou logo de contestar a fala do irmão.
      
       — Paulo, que
história é essa? Você nunca me disse que não gostava de pescaria.
      
       — Não é que eu não
gostasse. Na verdade, eu sempre odiei!
      
       — Ué, e por que você
ia com a gente, então?
      
       — E tinha outro
jeito? 
      
       — Ué, era só falar.
      
       — Mas eu falava. O
problema é que você e o papai nunca me escutavam.
      
       — Não me lembro
disso.
      
       — Não?
      
       — Não!
      
       — Pois eu queria
brincar na praia.
      
       — Ah, mas a gente
brincava na praia.
      
        — Sim, mas depois de
passar a manhã inteira naquelas pedras. Ainda me lembro de você e o papai se
divertindo entre um e outro peixe fisgado, enquanto eu não tirava o olho da
praia. 
      
       Quase um mês após
aquele almoço, Pedro telefonou para o irmão. Ele disse que havia reservado uma
casa em frente à praia do Peró. Seria não apenas momento de relembrar o passado
tão longínquo, como também de reparações.
      
       Os irmãos
pegaram o avião em Brasília e desceram no Rio. De lá, alugaram um carro e
rumaram para Cabo Frio. Chegaram ao destino quando já era madrugada. Cansados
pela viagem, adormeceram logo após desfazerem as malas. 
      
       Acordaram
bem cedo e, animados, correram que nem meninos para a praia. Deram mergulhos,
jogaram água um no outro, gargalharam o que há muito estava represado no peito.
Ficaram por ali até que a fome bateu. 
               Almoçaram moqueca de camarão e beberam
suco de abacaxi. O dia foi repleto de lembranças. Pedro, no entanto, percebeu
que o caçula continuava com o olhar perdido.
      
       — O que foi? Não tá
gostando?
      
       — Tô.
      
       — E que cara é essa?
      
       — Saudade do papai.
      
       — Também sinto falta
dele.
      
       O domingo amanheceu
ensolarado, enquanto o odor da maresia inebriava o ambiente. Tudo perfeito para
mais um dia na praia. 
      
       — E aí, Paulo, já tá
pronto?
      
       — Sim.
      
       — Então, vamos, que
à tardezinha temos que retornar.
      
       — Que tal pescar lá
nas pedras?
      
       Pedro, surpreso,
olhou para o irmão. Os dois sorriram e, caniços e iscas nas mãos, caminharam
até as pedras entre as praias do Peró e das Conchas. Não pegaram muitos peixes.
Todavia, fisgaram inúmeras lembranças. 
- Nota de esclarecimento: O conto "Lembranças e reparações" foi publicado por Notibras no dia 21/12/2024.
 - https://www.notibras.com/site/do-almoco-em-familia-no-lago-sul-a-um-banho-de-mar-e-pescaria-em-cabo-frio/
 

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