Não sou da patota, mas não nasci surda. Então, não queira você que eu tape os
ouvidos para as fofocas que me chegam de supetão. Para falar a verdade, até me
divirto com algumas, enquanto tenho ojeriza a tantas outras.
— Lucrécia, preciso te contar uma coisa!
A dona dessa frase que poderia arrebatar o coração dos mais
curiosos é a Aldenora, vizinha do 304. Não vale um tostão, mas não serei eu a
impedi-la de despejar aquilo que não consegue segurar dentro da boca. Portanto,
que fale tudo e não me esconda nada.
— Pois diga.
— Num tem o casal que se mudou no mês passado?
— E por acaso mudou alguém pra cá?
— Num tá sabendo?
— Não.
— Num é possível!
— Hum! O que não é possível, Aldenora?
— Ué, você num tá sabendo!
— Mulher, o que eu não tô sabendo?
— Do casal que se mudou pra cá.
A ladainda, se eu não tratasse logo de cortar pela raiz,
iria dar frutos graúdos na próxima safra.
— Olha aqui, Aldenora, eu não sei do que você tá falando.
Se quer falar, que fale logo, pois tô sem tempo.
— Desculpe, Lucrécia. É que eu jurava
que você tava sabendo.
— Pois não tô.
— Nem eu. No entanto, ouvi dizer que, com aqueles
dois, as maracutaias são secretas, mas o cinismo é claríssimo.
- Nota de esclarecimento: O conto "Fofoca infrutífera" foi publicado por Notibras no dia 30/12/2024.
- https://www.notibras.com/site/lucrecia-impaciente-resiste-a-impeto-de-aldenora-para-falar-de-novos-vizinhos/
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