Visitar a Torre Eiffel, a Catedral de
Notre-Dame e o Museu do Louvre ou passar por baixo do Arco do Triunfo estava
fora dos planos por enquanto. Dessa forma, conformados que estavam, aqueles
dois trataram de colocar a bagagem no velho, porém resiliente, possante, e
pegaram a estrada quando a madrugada ainda era menina. O plano era chegar à
fazenda do Alberto, o tal amigo, quando o dia estivesse amanhecendo.
Para afastar qualquer cochilada, Maria Clara
encheu a garrafa térmica com café bem forte. Também preparou alguns sanduíches
de queijo e mortadela, os preferidos do marido.
— Argolo, você quer que eu dirija um pouco?
— Não precisa, amor. Estou bem.
— Mas se você ficar com sono, me fale.
— Pode deixar.
Enquanto o carango bravamente vencia os quilômetros, Maria
Clara e Argolo conversaram mais do que o habitual. Momentos de conhecer o
parceiro, que muitas vezes foram adiados pela simples correria. Isso, aliás,
parece ter surtido mais efeito do que a cafeína, pois o casal ficou surpreso quando
percebeu a placa que indicava que precisaria dobrar à esquerda para entrar na
estrada de terra, que levaria até a propriedade rural do Alberto.
Argolo reduziu a velocidade
para evitar que os solavancos danificassem a suspensão do carro. Por sorte, a
porteira estava logo adiante, onde Alberto e um funcionário esperavam pelos
amigos. Após os cumprimentos, todos se dirigiram para a sede, onde já os
aguardava um farto café da manhã.
Quase duas horas sentados à mesa, Argolo avistou alguns cavalos ao
longe.
— Belos cavalos,
Alberto.
— Quer montar?
Argolo, talvez querendo
demonstrar desenvoltura com o assunto, aceitou de pronto.
— Claro!
Alberto pediu ao funcionário que fosse arrear
um animal. Não tardou, um lindo tordilho estava diante do
alpendre. Maria Clara pareceu receosa com aquela situação.
— Argolo, você tem certeza?
— Não se preocupe, meu bem.
Jurandir, o capataz, deu pequenas instruções
ao hóspede, que já estava sentado na sela. Arreios nas mãos, Argolo deu leve
toque com os calcanhares na barriga do animal, que começou a andar e, logo
depois, já se encontrava a uma boa distância da casa.
Não se sabe por que isso aconteceu, mas
aconteceu. É que o cavaleiro de primeira viagem, talvez se sentindo Durango
Kid, resolveu desferir mais um toque, porém mais forte, no vazio animal, que
disparou. Pra quê? Argolo, de repente, se viu em situação complicada e, por
pouco, não caiu.
Argolo teve ímpeto de gritar por socorro,
mas lhe faltou voz. E galopa daqui, galopa de lá, galopa desembestado para todo
lado, eis que o bicho estacou. Foi a deixa para que o homem descesse e voltasse
a pé, puxando o cavalo pelas rédeas. Enquanto isso, lá na varanda,
Alberto e Maria Clara, testemunhas daquela performance, conversavam.
— Seu marido monta bem.
— Pois é. E olha que eu nem sabia disso.
- Nota de esclarecimento: O conto "Fim de semana na roça" foi publicado por Notibras no dia 16/12/2024.
- https://www.notibras.com/site/argolo-tipo-durango-kid-descobre-que-cavalgar-nao-e-para-qualquer-um/
Nenhum comentário:
Postar um comentário