—
Gente, como tá enorme!
— É
verdade. Ontem mesmo era tão pequenina.
O pai de
última viagem, não tardou, foi brincar com a menina, cuja energia parecia ser
infinita. Pelo menos era assim que o corpo envelhecido do homem imaginava. Seja
como for, tratou de aprumar a coluna e deu aquela esticada, o que fez as juntas
estalarem como ranger de porta de filme de terror.
Enquanto
o marido tentava acompanhar o ritmo frenético da cria, a mulher aproveitou para
colocar em dia a leitura. Apaixonada que era por Drummond e Pessoa, há quase
seis meses se deliciava com as poesias dos livros "O diagnóstico do
espelho", de Sarah Munck, e "A verdade nos seres", de Daniel
Marchi.
De tão entretida com
aqueles versos, não percebeu quando um homem se sentou em um dos bancos da
praça. Se tivesse notado, talvez não lhe daria importância, mesmo porque o
sujeito parecia interessado em algo ao seu lado. Não que houvesse algo ali,
pelo menos não perceptível à primeira vista.
Enquanto
pensava sobre a última estrofe lida, a mulher foi interrompida pela voz do
estranho.
— Desculpe.
— O quê?
—
Desculpe.
— Não entendi.
— Quero me
desculpar com a senhora.
—
Desculpar? Como assim?
— Desculpa pelo
zum-zum-zum.
— Zum-zum-zum?
Que zum-zum-zum?
— O zum-zum-zum de agora há pouco. Mas
pode ficar tranquila, que a pessoa que estava aqui conversando comigo já foi
embora.
Instintivamente, ela
olhou para todos os lados, mas não havia ninguém por ali, a não ser o marido e
a filha, que continuavam brincando. Em seguida, o gajo se levantou e foi embora
gesticulando, como se estivesse reencontrado o amigo imaginário.
- Nota de esclarecimento: O conto "Amigo imaginário" foi publicado por Notibras no dia 26/12/2024.
- https://www.notibras.com/site/malu-brincava-com-o-pai-a-mae-lia-e-de-repente/
Amigo imaginario existe desde sempre. Perfeito.
ResponderExcluirVocê tem razão, Luzia. Muito obrigado pelo comentário!
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