sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Agnaldo, o cleptomaníaco

    

              Agnaldo, apesar de ter compulsão por pegar o que é dos outros, não podemos chamá-lo de ladrão. É que o homem sofria de cleptomania, que é um transtorno psiquiátrico. Não que o sujeito quisesse prejudicar a vítima, bem como o objeto em si não tivesse valor financeiro para Agnaldo. Entretanto, tal explicação nem sempre era suficiente para livrar o rapaz dos imbróglios que se metia. 

          Pois a última confusão que Agnaldo se meteu foi na semana passada, quando acompanhou Jurema, a esposa, até o supermercado. E lá estava ele empurrando o carrinho de compras, enquanto a mulher pegava cinco quilos de arroz, dois de feijão, algumas laranjas, alface, tomate, limão, farinha de trigo... A lista era enorme.

          Foi num momento de distração de Jurema que o marido surrupiou uma barra de chocolate e a meteu no bolso do casaco. Ele abriu um sorriso de satisfação, como se o Flamengo tivesse sido favorecido pela arbitragem mais vez. O problema é que o gajo foi flagrado por um vigilante, que ficou de olho. 

          Após passar pelo caixa, lá foi o casal em direção ao carro. Foi nesse exato momento em que o vigilante do estabelecimento abordou o Agnaldo. Pego em flagrante, o homem não conseguiu inventar desculpas. Em seguida, a polícia foi acionada e conduziu o cleptomaníaco para a delegacia. 

            Conversa daqui, conversa dali, conversa até de acolá, o delegado arbitrou fiança de dois mil reais. Jurema ainda tentou demover a autoridade policial daquele valor exorbitante, ainda mais levando em conta que a barra de chocolate não custava nem dez reais. 

           — Minha senhora, a fiança não leva em conta apenas o valor do item furtado, mas da infração penal. O seu marido cometeu um crime e deve pagar por ele.

             — Ele é cleptomaníaco.

             — E daí? Sou tricolor e não saio por aí pegando o que não é meu.

             Jurema, percebendo que não adiantava continuar naquela discussão infrutífera, foi sacar a quantia da fiança. Furiosa que estava, pegou todas aquelas notas e as trocou por moedas. Colocou tudo numa sacola e retornou para a delegacia.

              — Aqui estão os dois mil. Agora solte o meu marido.

                O delegado olhou espantado para aquela quantidade enorme de moedas. Nem pensou em reclamar. Olhou para o Gilmar, o escrivão, que passou um bom tempo contando aquela quantia. 

                  — Doutor, faltam dez centavos.

                 O delegado, furioso com aquilo, mas querendo se livrar daquela pendenga o mais rápido possível, catou uma moeda no bolso e a entregou para o escrivão. Não tardou, Agnaldo e Jurema saíram de mãos dadas da delegacia. Apesar de aliviada pela soltura do marido, ela passou o dia inteiro com um pensamento fixo: "Ô, chocolate caro!"

  • Nota de esclarecimento: O conto "Agnaldo, o cleptomaníaco" foi publicado por Notibras no dia 6/12/2024.
  • https://www.notibras.com/site/agnaldo-o-cleptomaniaco-da-asa-sul-vai-para-prisao-por-embolsar-chocolate/

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