quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Jurema, a esposa traída

   

             Jurema andava furiosa por conta de traição do marido. Um traste, é verdade! Não tinha outra alternativa a não ser a separação. E foi com tamanha certeza que a mulher se dirigiu à casa da mãe, que, nesse caso, se chamava Joana. 

          — Mamãe, vou me separar!

          — Separar? 

          — Sim!

          — Do Getúlio?

          — E por acaso tenho outro marido?

          — Só quero ter certeza, minha filha.

          — O Getúlio é um cretino!

          — Não fale assim do seu marido, Jurema.

          — Pois fique a senhora sabendo que o seu genro querido me traiu.

          — Hum...

          — Hum o quê?

          — Tem certeza?

          — Certeza absoluta!

          — Olha que fofoca corre ligeira.

          — Não é fofoca, mamãe. Eu vi!

          — Viu o quê?

          — O Getúlio aos beijos com a Rita.

          — Rita? Que Rita?

          — A Rita, ué! Ou a senhora conhece outra Rita?

          — A diarista?

          — A própria!

          — Hum...

          — Hum o quê, mamãe?

          — Só isso?

          — Só? A senhora acha só?

          — Veja bem, minha filha, o Getúlio já está perto dos 50 anos, não é o que podemos chamar de homem que cuida bem da saúde. Ele é diabético, está muito acima do peso, não faz ginástica, gosta de tomar umas, fuma que nem um condenado...

          — E daí? 

          — E daí que ele também tem um excelente emprego.

          — Mamãe, e daí?

          — E daí que você tem tudo pra se tornar viúva, ainda mais se continuar satisfazendo os desejos do seu marido.

          — Desejos? Pois estou com nojo daquele traste!

          — Jurema, preste atenção, minha filha! 

          — Pois diga logo, minha mãe!

          — Se o seu esposo deseja torresmo, que você dê torresmo. Se ele quiser cachaça, que você encha o seu copo. Se ele quer doce, que você faça uma panela cheia de brigadeiro. Ah, e tem mais uma coisa.

          — O quê, mamãe?

          — Pegue este isqueiro para acender todos os cigarros do seu esposo. 

          Jurema parece que entendeu o recado. Tanto é que, a partir de então, tratou Getúlio como um rei, que poderia ter se tornado Momo no carnaval seguinte, caso não sucumbisse na virada do Ano Novo. Pobre homem, não resistiu. O velório foi breve; o enterro, logo em seguida. Quanto à viúva, desfruta a polpuda pensão em viagens pelo mundo, exatamente como a dona Joana havia previsto.

          — Minha filha, os transtornos passam, mas os benefícios ficam.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Jurema, a esposa traída" foi publicado por Notibras no dia 11/12/2024.
  • https://www.notibras.com/site/jurema-esposa-traida-fica-viuva-e-com-pensao-gorda/

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