Normalmente,
quem sai com a Bebel e a Clarinha, nossas buldogues, sou eu. No entanto, como
eu estava em Brasília resolvendo algumas pendências na redação do Notibras, a
minha mulher assumiu a tarefa das caminhadas diárias com as nossas filhas de
cara achatada. E lá foram as três enfrentar o frio na capital gaúcha, quando as
ruas ainda estavam praticamente vazias.
          A Dona Irene,
ansiosa para retornar para o nosso apartamento, travava uma conversa com a
Bebel e a Clarinha.
          —
Vamos logo, meninas! Façam o que vieram fazer, pois do jeito que o tempo está
hoje, nem alma penada vai colocar a fuça pra fora de casa.
          Bebel,
a mais teimosa, resolveu parar e, não tardou, se esparramou na calçada. Minha
esposa tentou falar para ela se levantar, mas nada da cachorra se mover. Nisso,
a Clarinha deu um salto para trás e começou a dar pequenos e quase inaudíveis
rosnados. 
          —
Ah, não, Clarinha! Até você? O que foi dessa vez?
          A
irmã da Bebel não parava de rosnar e, então, a Dona Irene virou levemente o
rosto e viu algo que a fez tremer não apenas pelo frio. O medo a tomou por
completo. No entanto, antes que ela picasse a mula, fingiu que estava tirando
uma selfie e, com isso, fotografoue uma bruxa bem ao fundo. 
          Assim
que chegou ao nosso apartamento, a Dona Irene me ligou.
          —
Edu, você não vai acreditar no que acabei de ver.
          —
O que foi?
          —
Vi uma bruxa!
          —
Bruxa?
          —
É, uma bruxa!
          Ela
me mandou a fotografia, onde realmente aparecia uma mulher bem ao fundo.
Todavia, falei que aquilo era uma bobagem, que aquela era uma senhora e não uma
bruxa. Pra quê?
          —
Edu, é uma bruxa, sim! Nunca vi essa mulher por aqui. E ela saiu de uma casa
que vive fechada. 
          Sem
tempo para imbróglio, ainda mais com a minha amada, tratei de concordar.
          — E agora, amorzinho, o que você vai fazer?
           — Como assim, Edu?
          — O
que você vai fazer com essa bruxa?
          — Ué, nada! Por que faria alguma coisa com ela?
          —
Sei lá! Não tem medo?
          — Medo? Eu? Edu, nenhuma
bruxa gaúcha bate de frente comigo. Ou você já se esqueceu que sou do Piauí,
sem contar que tenho vasta vivência do Maranhão?
- Nota de esclarecimento: A crônica "Misteriosa selfie" foi publicada por Notibras no dia 28/12/2024.
 - https://www.notibras.com/site/ligacao-de-dona-irene-informa-passagem-de-bruxa-que-nao-intimida-ninguem/
 
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