sábado, 28 de dezembro de 2024

Misteriosa selfie

        Não sou supersticioso, mas sou casado com a Dona Irene, cuja imaginação a transporta para outros mundos. Tanto é que um simples passeio numa manhã fria em Porto Alegre pode se tornar algo digno dos livros da Agatha Christie, tão adorados pelo jornalista e escritor José Seabra, meu colega aqui no Notibras. 

          Normalmente, quem sai com a Bebel e a Clarinha, nossas buldogues, sou eu. No entanto, como eu estava em Brasília resolvendo algumas pendências na redação do Notibras, a minha mulher assumiu a tarefa das caminhadas diárias com as nossas filhas de cara achatada. E lá foram as três enfrentar o frio na capital gaúcha, quando as ruas ainda estavam praticamente vazias.

          A Dona Irene, ansiosa para retornar para o nosso apartamento, travava uma conversa com a Bebel e a Clarinha.

          — Vamos logo, meninas! Façam o que vieram fazer, pois do jeito que o tempo está hoje, nem alma penada vai colocar a fuça pra fora de casa.

          Bebel, a mais teimosa, resolveu parar e, não tardou, se esparramou na calçada. Minha esposa tentou falar para ela se levantar, mas nada da cachorra se mover. Nisso, a Clarinha deu um salto para trás e começou a dar pequenos e quase inaudíveis rosnados. 

          — Ah, não, Clarinha! Até você? O que foi dessa vez?

          A irmã da Bebel não parava de rosnar e, então, a Dona Irene virou levemente o rosto e viu algo que a fez tremer não apenas pelo frio. O medo a tomou por completo. No entanto, antes que ela picasse a mula, fingiu que estava tirando uma selfie e, com isso, fotografoue uma bruxa bem ao fundo. 

          Assim que chegou ao nosso apartamento, a Dona Irene me ligou.

          — Edu, você não vai acreditar no que acabei de ver.

          — O que foi?

          — Vi uma bruxa!

          — Bruxa?

          — É, uma bruxa!

          Ela me mandou a fotografia, onde realmente aparecia uma mulher bem ao fundo. Todavia, falei que aquilo era uma bobagem, que aquela era uma senhora e não uma bruxa. Pra quê?

          — Edu, é uma bruxa, sim! Nunca vi essa mulher por aqui. E ela saiu de uma casa que vive fechada. 

          Sem tempo para imbróglio, ainda mais com a minha amada, tratei de concordar.

          — E agora, amorzinho, o que você vai fazer?

          — Como assim, Edu?

          — O que você vai fazer com essa bruxa?

          — Ué, nada! Por que faria alguma coisa com ela?

          — Sei lá! Não tem medo?

          — Medo? Eu? Edu, nenhuma bruxa gaúcha bate de frente comigo. Ou você já se esqueceu que sou do Piauí, sem contar que tenho vasta vivência do Maranhão?

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Misteriosa selfie" foi publicada por Notibras no dia 28/12/2024.
  • https://www.notibras.com/site/ligacao-de-dona-irene-informa-passagem-de-bruxa-que-nao-intimida-ninguem/

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