sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Tia Augusta e a história da nossa família

Tia Augusta era porreta. Não que enfrentasse tudo de modo destemido, até porque sabia que as pancadas, quando pegavam em cheio, chegavam carregadas de dor. No entanto, não era de sublocar pendengas, mesmo as que lhe chegavam por conta de amizades duvidosas ou mal escolhidas. 

          Ela foi a primeira a chegar aqui, quando a nova capital do país não passava de um amontado de obras neste barro vermelho, que, há alguns dias, descobri ser por causa de tanta hematita. Após quase dois anos de muita luta, titia trouxe a mãe e a única irmã, que, naquela época, não passava de uma menina de oito anos. 

          Mesmo diante das dificuldades, aquele reencontro trouxe alento para aquelas três mulheres. Como aprendi com tia Augusta, quando a dor é dividida, o calvário é menor. E foi assim que elas sobreviveram, apesar dos despejos, apesar das agruras que se multiplicavam que nem bactérias, das promessas não cumpridas, das mentiras escancaradas, das mazelas agravadas a partir de 1964. 

            Olhando para trás, parece que tia Augusta não teve tempo de viver a própria vida. Preocupada com a manutenção da família, não me lembro de tê-la visto passar um batom ou um perfume. Se teve amores, nunca descobri. O certo é que fez o que foi possível para dar o conforto que vovó nunca tivera, assim como lutou que nem leoa para que minha mãe tivesse uma carreira.

             — Cícera, você vai estudar. Não te quero ver buchuda com a barriga no tanque nem no fogão.

            Mamãe, que sempre teve a irmã como segunda mãe, parece que seguiu os conselhos à risca. Estudou e foi a primeira da família a passar em um concurso público. Funcionária do Banco do Brasil, abriu um mundo de possibilidades diante de tantas precariedades até então. Chegou ao posto de gerente, mas jamais se esqueceu das suas origens, e fazia questão de que eu soubesse.

            — Alice, lembre-se sempre de onde você veio. 

            Apesar de nunca ter passado por tamanha carestia, é como se aquilo tudo fizesse parte também da minha jornada. Mamãe tem razão, pois não podemos fugir da nossa história. 

            Há três meses, perdemos tia Augusta. Ela foi consumida pelo câncer de mama, que se espalhou. Mamãe e eu cuidamos da nossa parenta, que sempre olhou por todos nós. Mulher sábia, quando a morfina já não era suficiente para controlar a dor, não raro, me pedia uma dose de cachaça.

            — Titia, mas a senhora tem certeza? O que o médico disse?

            — Alice, Napoleão tinha uma frase ótima.

             — Napoleão Bonaparte?

             — Sim. Sabe o que ele falava?

              — Não.

               — Na vitória, você merece champanhe. Na derrota, você precisa dele.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Tia Augusta e a história da nossa família" foi publicado por Notibras no dia 28/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/tia-augusta-e-a-historia-da-familia-regada-a-gole-de-cachaca-no-leito-da-morte/

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Picolé, Machado de Assis e Daniel Marchi

      Há décadas ouvi um famoso publicitário, já falecido, afirmar que era covardia colocar criança e cachorro em anúncio. É que tal artimanha seria capaz de vender até gelo para esquimó. Não sei se isso é verdade, mas sou suspeito para acreditar, já que há muito escolhi ser veterinário simplesmente porque adoro os cães, sem falar que não consigo resistir ao sorriso maroto da minha caçula, a Malulinha. 

        É engraçado que, ao escrever este texto, percebo que a minha filha pequenina, no auto do seu quase um ano e meio, já foi tema das minhas crônicas quase tanto quanto minha amada esposa, a famosa Dona Irene. Serei mais um pai babão? Creio que estou longe desse estereótipo, apesar de considerar minhas três meninas um bocado acima da curva. Enquanto as maiores se destacam nas respectivas áreas (advocacia e biotecnologia), a menor da trupe me ganha com expressões dos mais variados tipos. 

        Quero falar um pouco sobre crônicas. Na verdade, prefiro escrever contos e romances, apesar de não resistir à tentação de relatar coisas do dia a dia. Confesso até que tinha certo preconceito em relação a esse gênero literário, talvez por causa do descompromisso com a seriedade. Seria eu, então, um escritor circunspecto? Provavelmente, tudo culpa de dois escritores que admiro demais: Machado de Assis e Daniel Marchi. 

        O primeiro é o mais imortal dos imortais, independentemente de ter sido um dos fundadores e membros da Academia Brasileira de Letras. Machado de Assis é muito maior do que a ABL, disso não tenho a menor dúvida. Ainda hoje, fico admirado como é que um sujeito pode ser tão bom e possuir uma obra deveras extensa. Gênio! Simplesmente o maior gênio literário na minha opinião.

        Tá, e o Daniel Marchi? Como tenho muita liberdade com ele, já que somos praticamente primos, falo sem qualquer restrição desse poeta e escritor contemporâneo. Provavelmente, o Dan (olha a intimidade) é o mais talentoso autor do nosso tempo, e rivalizaria com Machado de Assis, caso não fosse por um pequeno detalhe, que, na verdade, é muito maior do que a distância do folclórico "é logo ali" dos nascidos em Minas Gerais. É que o meu amigo, além de levar uma vida mais corrida do que o Ligeirinho e o Papa-Léguas, é acometido, de quando em vez, pela preguiça. 

        Não sei se você é fã do Martinho da Vila, afamado sambista, cuja voz arrastada me faz lembrar da demora do Dan para escrever um conto, uma crônica ou uma poesia. O bom é que, quando sai, o texto é impecável. Creio até que o próprio Machado de Assis, cujos restos mortais repousam na sede da ABL, ficaria com uma pontinha de inveja. 

        Ah, mas deixemos a polêmica de lado, pois comecei esta crônica para falar da cara de felicidade da minha caçula toda vez que ganha um picolé feito especialmente para ela. Se bem que, não raro, dou cá minhas mordidinhas, a despeito das broncas da Dona Irene.

        — Edu, não tem vergonha de roubar o picolé da Malulinha?

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Picolé, Machado de Assis e Daniel Marchi" foi publicada por Notibras no dia 27/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/malu-picole-machado-de-assis-e-daniel-marchi/

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Um caso comum

        Gervásio abriu os olhos e viu uma luz branca. Sentiu que, finalmente, havia chegado ao seu destino, como sua mãe lhe contara nos tempos de menino.

            — Seja bom, meu filho, que um dia o Senhor o chamará.

            O homem sorriu aquele sorriso de dever cumprido quando, então, percebeu uma voz feminina. Seria Deus uma mulher? A forte luz sob seu rosto o impediu de ver com clareza, mas notou um vulto todo de branco vindo em sua direção. Um calafrio percorreu por toda sua espinha, quando ouviu uma voz doce como a de Veridiana, sua amada esposa.

            — Senhor Gervásio, vou acompanhá-lo até o próximo andar.

            O sujeito pensou que a mulher fosse um anjo, que certamente o levaria até o Senhor. Sua mãe não havia mentido. Afinal, mães não mentem ou, ao menos, a sua não era afeita a inverdades. 

            Enquanto aguardava, Gervásio foi tomado por lembranças que o atormentavam há quase cinco anos, quando Fernando, seu primogênito, se envolveu com Laura, favelada e, pior, preta.  E o que parecia apenas mais um namorico, se transformou em paixão, o que, aos olhos de Gervásio, roubou toda a razão do filho, que resolveu se casar com a tal desclassificada. 

            O homem tentou a todo custo demover Fernando daquela insanidade. Entretanto, jovem que era, o rapaz bateu pé e seguiu firme naquele pensamento, que, aos olhos do pai, só poderia dar no que deu. Pois é, caso já não bastasse expor o nome da família perante a sociedade, alguns meses após o casório, Laura desfilava sua prenhez pelo bairro. 

            Gervásio, apesar de contrariado, jamais expulsou o filho do convívio familiar. Não que ele não merecesse, mas simplesmente porque, bom pai que era, não poderia abandonar a prole por pior que fosse a desobediência. Dessa forma, Fernando continuou com trânsito livre na casa dos pais. Todavia, nada de trazer aquela fulana, ainda mais porque carregava o fruto do pecado.

            Por mais que tentasse desviar o pensamento, Gervásio tinha pesadelos corriqueiros com aquela mucama parindo seres disformes. Certa vez, o pobre homem se deparou com a visão de Laura de cócoras, gargalhando com todos aqueles dentes alvos e beiços grossos, enquanto uma criatura horrenda, da cor de piche, era expelida pelas partes pudendas da mulher. Aquele ser repugnante não poderia ser humano. 

            Gervásio se recordava da visita do filho numa quarta-feira, dia 18 de julho. Fernando parecia radiante, pois fora contar para a família sobre o nascimento não de um mestiço, mas de três criaturas do sexo feminino. Ironia maior é que aqueles seres carregados na cor haviam sido expelidos das entranhas de Laura justamente no dia do aniversário de 58 anos do sogro. 

            Veridiana, para não desagradar o marido, conteve a alegria diante da notícia trazida pelo filho. Entretanto, era nítida em seus olhos castanhos a felicidade de ser avó e, melhor ainda, de três meninas. A mulher, apesar da ânsia de correr para o hospital e conhecer as netas, preferiu manter a cabeça baixa para que Gervásio não notasse as lágrimas que escorreram por sua face.  

            Os dias que se seguiram foram repletos de encenações. Gervásio fingia que desconhecia o nascimento da prole de Laura, Veridiana tentava imaginar como eram os rostinhos das netas. Avó que era, precisava ajudar a cuidar dos bebês, sem contar a ânsia de pegá-los no colo, niná-los e lhes contar as mesmas histórias que aprendeu quando ela, ainda neném, fora tantas vezes colocada para dormir no colo da mãe. 

            Conheceu o futuro marido em novembro de 1911, pouco antes dos 17 anos. Um ano após, casou-se com Gervásio, que, a princípio, precisou convencer o pai de Veridiana de que era capaz de sustentar uma família. Caráter, nem o futuro sogro duvidava que ele possuísse, apesar de divergências políticas. 

            Desconfiança superada, o sogro até ajudou o futuro genro a arrumar uma casa próxima à sua. Desse modo, a família continuaria próxima, e os vínculos com o novo membro seriam fortalecidos. E foi o que ocorreu, com almoços aos domingos, ora na residência do sogro, ora no lar do novo casal.

            Os primeiros enjoos de Veridiana ocorreram no início do verão. Ela estava ajudando sua mãe a preparar o ensopado, quando precisou correr para o banheiro. Fora os respingos, bastou que a mulher desse descarga na privada. Foi amparada pela mãe, que pareceu feliz.

            — Vá se deitar, que eu cuido do almoço. A primeira vez parece o fim do mundo, mas logo você se acostuma. 

            Fernando nasceu em meados do ano seguinte. Robusto que nem o pai, os olhos eram de Veridiana. Primeiro filho, primeiro neto, primeiro tudo, o menino desfrutou de todos os mimos. 

            Quando Fernando começou a dar os primeiros passos, Veridiana sentiu novos enjoos, que perduraram pelos meses seguintes. O marido passava o dia inteiro fora, mesmo porque precisava garantir que nada faltasse para a família, que, em breve, ficaria maior. O que Gervásio não esperava é que a esposa parisse gêmeos: Juliana e José.

            O parto, além de difícil, fez com que Veridiana não pudesse ter mais filhos. Ela ficou triste, pois esperava poder encher a casa com pelo menos mais três crianças. Entretanto, religiosa que era, entendeu aquilo como vontade de Deus e se conformou. E foi com esse sentimento de resignação que, em 1918, enterrou os dois pequenos, vitimizados pela gripe espanhola. Fernando, apesar de afetado pela terrível doença, conseguiu resistir.

            Gervásio se revoltou com Deus nessa época, recusando-se a frequentar a igreja por longo período, até que, já no início de 1920, foi levado pelas mãos da esposa. O homem, a princípio, se sentiu envergonhado aos olhos do padre. Coisa breve, já que o pároco o acolheu de braços abertos. 

            — Gervásio, meu filho, apesar de muitas vezes não os entender, jamais devemos contestar os desígnios de Deus. 

            Fernando cresceu rápido. Quando os pais perceberam, ele já se transformara em um belo rapaz de cabelos negros. Pouco mais alto do que Gervásio, atraía os olhares das moças e, não tardou, começou a se interessar por Maria de Lourdes, que morava na rua ao lado. A garota parecia corresponder ao interesse do rapaz, e tudo encaminhava para firmar compromisso.

            A primeira a notar o interesse do filho por Maria de Lourdes foi Veridiana. Não disse palavra, entendia que, aos 21 anos, Fernando havia se tornado homem. E, quando pensou em conversar com Gervásio sobre o acontecimento, o filho decidiu abrir o coração.

            — Mãe, acho que me apaixonei.

            — Que notícia boa, meu filho! Bem que notei seu modo de olhar para a Maria de Lourdes.

            — Não é por ela que estou apaixonado, minha mãe.

            — Não? E por quem é então?

            — Pela Laura.

            — Laura? Não me lembro de nenhuma Laura, Fernando.

            — É uma moça que conheci há pouco tempo. A senhora não conhece.

            — Pois traga essa moça aqui para que seu pai e eu possamos conhecê-la.

            — Ainda não conversei com os pais dela, mamãe. 

            — Pois se você gosta mesmo dessa moça, vá conversar primeiro com os pais dela. E depois a traga aqui em casa, que tenho certeza de que seu pai aprovará o namoro. 

            Quase um mês após, Fernando retomou a conversa com a mãe. Disse-lhe que o namoro estava firme, inclusive com a aprovação dos pais de Laura. Era hora de, finalmente, Veridiana e Gervásio conhecer a futura nora. 

                — Pode deixar, meu filho, que vou conversar com seu pai ainda hoje. 

                Veridiana, ao se deitar naquela noite, puxou assunto com o marido. Contou-lhe as novidades. Gervásio ficou surpreso, mas não desaprovou a conduta do filho. O homem disse para a esposa que poderia marcar o almoço para o sábado seguinte. E que viessem também os pais da moça para conhecê-los. Desse modo, tudo ficaria acertado. 

                Fernando recebeu a notícia com entusiasmo e, no mesmo dia, foi contá-la para Laura. Ela ficou encarregada de conversar com os pais, que aceitaram de bom grado o convite. 

            Além da macarronada ao molho de tomate, foi servido vinho tinto. Os jovens e as esposas tomaram suco de caju. Entre garfadas e goles dos presentes, Gervásio quase não tocou na comida. Era nítido o descontentamento do dono da casa, enquanto Veridiana procurava afastar qualquer constrangimento colocando mais comida nos pratos e enchendo os copos dos convidados. 

            À noite, quando já estavam recolhidos em seus aposentos, Gervásio e Veridiana se entreolharam. O marido parecia furioso e, não tardou, despejou sobre a mulher todo seu desapontamento.

            — Uma preta? Como é que o Fernando me aparece aqui em casa com uma preta?

            A despeito da desaprovação do pai, o coração do filho falou mais alto e ele prosseguiu com o namoro. Veridiana até tentou demover Fernando daquele amor. Menos por preconceito, mais para acabar com a discórdia em seu lar. Foi em vão, já que os jovens logo firmaram noivado e se casaram em maio.

Nunca houve embate explícito entre Gervásio e Fernando, apesar dos desvios de olhares todas as vezes em que o filho mencionava a agora esposa. O pai chegou a desejar que a nora fosse abalroada por um bonde desgovernado. Que a mulher não sofresse, mas perdesse a vida para, assim, livrar a família de um mal maior. 

            Os pensamentos de Gervásio não surtiram efeito. Tanto é que, não tardou, Laura engravidou. Que frutos esperar do ventre de uma preta? O sujeito tinha pesadelos mesmo quando acordado, até que o momento chegou e a ninhada, em número de três, foi jogada neste mundo. 

            Gervásio, diante do espelho, jurou que jamais iria ver aquelas aberrações. Ele comunicou sua decisão à Veridiana, que, cabeça baixa, acatou. Que ela pusesse Fernando a par. E foi o que a mulher fez dois dias após. 

            Fernando, a princípio, quis explodir. Entretanto, ao perceber a tristeza no rosto da mãe, conteve seu ímpeto e chorou. Chorou copiosamente nos braços da mãe, que aninhou o rebento como outrora o fizera a cada percalço que o menino teve na vida. 

            — O seu pai é um homem bom, meu filho. Essa situação vai passar. Tenhamos fé em Deus, que passa.

          Não passou. Tanto é que, para conhecer as netas, Veridiana precisou fazê-lo escondida, enquanto o esposo estava no trabalho. E assim prosseguiu, inclusive recebendo a visita das meninas durante o dia. Mas, assim que a hora do retorno de Gervásio se aproximava, Laura ou Fernando ia buscar as filhas. 

            Não se sabe se Gervásio desconfiava. Na dúvida, Veridiana carregava no alho a janta para sobrepor qualquer resquício de cheiro de criança. Ela, no entanto, levava chorosa aqueles momentos, inclusive buscando nas narinas o cheiro das meninas.

            Veridiana pensou em pedir conselho ao padre. Homem sábio que era, certamente abriria o coração de Gervásio. Todavia, antes que pudesse agir, viu o marido contorcer o rosto e tombar sobre o prato de sopa. Desesperada, tentou acudi-lo, mas não soube como. Correu para casa do filho, que ficava duas ruas abaixo. 

            — Pai! Pai! - Fernando gritou quando viu o corpo de Gervásio caído.

            Com a ajuda dos vizinhos, Gervásio foi socorrido ao hospital. O médico foi chamado e, ao se deparar com o quadro do paciente, mandou os enfermeiros o colocarem numa maca.  Não teve dúvida. Típico caso de derrame cerebral. O prognóstico não era dos melhores. 

            Há meses, Gervásio pensava em procurar a nora e, principalmente, as netas. Ele, que nunca as havia visto, deseja pegá-las no colo. Nem mesmo sabia o nome das crianças. Decidido, pousou a colher sobre a mesa e, ao tentar se erguer da cadeira, tudo ficou escuro. 

            Agora sozinho no quarto, Gervásio conversava com Deus. Não pedia conselhos, mas perdão. Como é que ele, um homem bom, não permitiu a aproximação da nora e, principalmente, das netas? Como elas o receberiam? A dúvida o transtornou até que o homem fechou os olhos pela última vez. 

            O enterro se deu dois dias após. Lá estavam Veridiana, Fernando, alguns familiares e amigos. Num canto, Laura segurava as mãos das filhas, enquanto lhes contava sobre o avô.

            — Minhas filhas, aquele é o vovô. Ele as amava muito.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Um caso comum" foi publicado por Notibras no dia 26/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/historia-de-gervasio-que-renegou-netas-negras-ate-ir-ao-encontro-de-deus/

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Boteco do Paulete

    

Sabe aquela sensação de que algo entrou no ouvido? Não bobagens que entram e saem, mas algo concreto. Digo, concreto no sentido palpável, não massa de cimento para chapiscar paredes. Zumbido! Lembrei! Eis o verbete.

          — Isso é coisa de velho, Adamastor.

          Tal diagnóstico foi proferido por Paulo, vulgo Paulete, dono do boteco perto do meu apartamento. Grande sujeito, anda com um pano de prato no ombro esquerdo, que usa como arma para tirar a poeira ou, então, acertar as moscas que cismam em pousar sobre o balcão. Mas não se engane, pois o sujeito, além de otorrinolaringologista, é desinibido ao ponto de prescrever medicamentos apropriados para qualquer depressão, inclusive dor de cotovelo, aquela mesma que costuma ser proveniente do coração.

          — Adamastor, tenho uma cachacinha da boa, que vai resolver seu problema. Basta colocar algumas gotinhas de limão e mel a gosto. Dois goles curtos a cada cinco minutos durante duas horas sentado naquele banco mais ao fundo. 

          — Mas resolve mesmo, Paulete?

          — Ô, Adamastor, tá duvidando?

          Isso aconteceu quando a Judite... Ah, Judite, por que me abandonastes? O que o Gilmar tem que eu não tenho? Dinheiro? Tem razão. Mas e o amor? Onde é que fica o amor?

          Tempos de Judite. Por onde será que anda a mulher? Soube que largou o Gilmar, pois vi o gajo, não faz muito tempo, recebendo o mesmo tratamento que recebi. O gajo parece que ficou pior do que eu, pois a medicação durou quase dois meses pelas madrugadas adentro no boteco do Paulete.

          Frequento o local por praticidade, já que é quase extensão do meu ser. A cerveja é sempre gelada, o tira-gosto não é dos melhores, mas a freguesia, tirando um ou outro chato de galocha, não é das piores. 

          — Paulete, desce aquela gelada!

          — Ô, Plínio, tu pensa que sou trouxa, é?

          Plínio, um dos tais malas, tem fama de caloteiro. Não que não pague, mas parece que possui certo preconceito em meter a mão no próprio bolso, ainda mais quando vislumbra a menor possibilidade de fiado. Meu vizinho de porta, não raro, me pede uma xícara de café ou açúcar. Ainda menos raro, pede as duas. 

          Teófilo é um dos ilustres frequentadores do bar do Paulete. Um tipo vulgar, que poderia facilmente ser confundido com qualquer outro vira-lata das redondezas. Convive pacificamente com Napoleão, felino de hábitos ociosos como muitos de sua espécie. Não há quem nunca os tenha visto dividindo um ovo colorido, generosamente ofertado pelo dono do estabelecimento, que tem o costume de fazer certas confidências aos dois.

          — Se a clientela fosse que nem vocês, aqui seria uma paz completa.

          Carol, mulher com certos atrativos, não sai do local. Tem até mesa cativa, onde lhe é servido café ou guaraná, dependendo da hora do dia. Seu sonho parece que era ser veterinária, mas o vestibular tem lá suas artimanhas. Não conseguiu entrar na faculdade, o que não a impediu, de certo modo, trabalhar com 25 espécies diferentes de animais.

          Acredita que o zumbido voltou? Isso, aliás, estava me consumindo. Imaginei até que a coisa pudesse desandar para algo mais grave. Pensando no pior, fui me consultar com o Paulete.

          — Ô, Adamastor, já falei que não pode misturar remédio pra labirintite com álcool. Você vai acabar dormindo de novo aqui no meu boteco.

          Diante da recomendação, voltei para meu cafofo, onde passei o dia deitado. Afinal, não dá para contrariar o doutor.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Boteco do Paulete" foi publicado por Notibras no dia 25/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/adamastor-tenta-silenciar-zumbido-com-prescricao-medica-dos-tempos-da-vo/

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Santana, o suspeito e a testemunha

    

        Os turnos dos plantões daquela delegacia eram de 24 horas, iniciando às 8h de um dia e indo até as 8h do dia seguinte. Havia também o pessoal do expediente, que se dividia entre várias seções, sendo uma delas a afamada SRD (Seção de Repressão às Drogas). No entanto, por brincadeira de algum colega não identificado, os componentes da SRD também eram chamados de vira-latas, ainda mais depois que o Santana, cana das antigas, verdadeiro cachorrão, foi designado para trabalhar ali. 

          O plantão naquele dia parecia tranquilo, até que os agentes da SRD entraram na delegacia conduzindo um indivíduo. Santana vociferava alto que o sujeito era criminoso da mais alta periculosidade. Tamanho rebu chamou a atenção da delegada Laura, uma finesse de pessoa. Ela foi informada sobre a situação, que, dependendo das provas, poderia se tornar flagrante. 

          — Santana, tem alguma testemunha?

          — Se não tiver, a gente arruma, doutora.

          A delegada, que já conhecia a fama do Santana, ordenou que outros policiais, a Ana Luísa e o Felipe, buscassem alguns populares para que fossem colocados ao lado do suspeito na sala de reconhecimento. Enquanto isso, o Santana deveria arrumar a tal testemunha do suposto delito. 

          Quase uma hora após, Ana Luísa e Felipe apresentaram dois transeuntes, cujas características físicas se assemelhavam com a do suspeito. Eles foram colocados na sala de reconhecimento. Nisso, surgiu o Santana com um rapaz e, em seguida, o apresentou à Dra. Laura.

          — Tá aqui a testemunha, doutora.

          A delegada, então, acompanhou a testemunha até uma sala em frente de outra, onde estavam o suspeito e os dois transeuntes. Ela disse para que a testemunha apontasse para o suposto traficante. O rapaz olhou para cada um dos homens por detrás do vidro espelhado, mas não conseguiu apontar o autor do tráfico. 

          Sem uma prova testemunhal, a delegada mandou soltar o suspeito e liberar os populares. Depois, virou-se e retornou para a sua sala. O Santana, com a costumeira cara de nenhum amigo, nem tentou disfarçar seu desapontamento. Ele se virou para a testemunha e resmungou.

          — Fique aqui, que vou liberar os caras. Depois te libero para que eles não saibam quem é você.

          Assim que foi liberado, o suspeito sorriu debochadamente para Santana, que teve que segurar seus ímpetos violentos. Ele bufou duas ou três vezes, enquanto os transeuntes trataram de sair logo da delegacia. 

          Santana, prestes a dar uma bifa no suposto traficante, voltou a si quando sentiu um irresistível aroma de carne assada. Foi aí que a ficha caiu. Era final de mês e, como de costume, havia o churrasco da galera na delegacia. 

          O resto do dia foi sem maiores imbróglios, até que apenas os plantonistas ficaram. A noite se tornou madrugada e, então, uma voz vinda lá do fundo ecoou por toda a delegacia. Pedrito pulou da cadeira e quase levou um tombo.

          — Ouviu isso, Ricky?

          — Deve ser alguém gritando lá de fora.

          Pedrito, acompanhado do agente Ricky Ricardo, foi até a frente da delegacia, mas não encontrou nada. Os policiais retornaram para o balcão de atendimento quando, então, ouviram nitidamente uma voz masculina.

          — Quero ir ao banheiro!

          Ricky Ricardo e Pedrito olharam para trás e constataram que a misteriosa voz vinha lá dos fundos da delegacia. Os policiais trataram de sacar suas pistolas e, cautelosamente, rumaram para o desconhecido. Ricky Ricardo, que era o chefe do plantão, tentando intimidar qualquer possível agressão, usou sua poderosa voz.

           — Quem tá aí?

          — Ô, seu polícia! Sou o Francisco.

          — Que Francisco, rapaz?

          — Sou o Francisco que trabalha no bar do Bira.

          — E o que você tá fazendo aqui?

           — Foi o agente Santana que me deixou aqui. Ele falou que eu precisava reconhecer um cabra.

          — Que cabra?

          — Sei lá! Ele apenas me disse que era um cara magro e de bigodinho. 

          — E você reconheceu?

          — Como, seu polícia? Era tudo magrinho e de bigodinho.

          Grande conhecedor das atrapalhadas do Santana, Ricky Ricardo tratou de liberar o rapaz, antes que a situação descambasse para algo pior. No entanto, antes de ir embora, a testemunha deu aquela aliviada no banheiro, empesteando toda a delegacia até o final daquele plantão.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Santana, o suspeito e a testemunha" foi publicado por Notibras no dia 24/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/santana-policial-trapalhao-mistura-tudo-com-o-suspeito-e-a-testemunha/

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Paciência nunca foi meu forte

        

        Ando tão estressada, que a paciência resolveu dar um passeio por outras localidades. Desconfio que seja por conta do inferno astral, que, segundo os especialistas, acontece nos trinta dias que antecedem o aniversário do vivente. O problema é que meu aniversário é somente daqui a seis meses. Teria sido eu agraciada com trevas prolongadas?

        Outra possibilidade, esta levantada por minha mãe, seria a iminência da menopausa. Mas como, se mal cheguei aos 30? Entretanto, as probabilidades me afastavam dessa hipótese. Seja como for, tratei de marcar consulta com especialista, que me passou vários exames, que descartaram que as regras estariam próximas ao fim. Então, nada de retirar absorventes da lista de compras do mês. 

          Um terceiro caminho foi apontado por meu irmão. Ele, que sempre foi o queridinho da família, teve a petulância de conjecturar que seria por carma de família. Isso como se ele fosse o bonitão sem problemas.

            — Rodolfo, por favor! Me poupe!

            — Renata, mas você não acha isso plausível?

            — Plausível é a...

          Não preciso dizer o que o traste escutou de mim, mesmo porque temos a mesma mãe. Quer dizer, a dele sempre foi amorosa, enquanto a minha só me reservou pancada. 

         Henrique, meu marido, acostumado com minhas mudanças de humor durante a TPM desde os tempos de namoro, sempre soube lidar com o rojão. Devo reconhecer que ele, ao contrário de mim, tem a paciência como dom e a paz como filosofia de vida. Quase um monge tibetano, eu diria, ainda mais diante de certas patadas que recebeu ao longo de quase oito anos de relacionamento.

         Não faz muito tempo, quando estava concluindo a minha dissertação de mestrado, andava com os nervos à flor da pele e quase sem tempo para comer direito. Henrique, certamente me percebendo muito abaixo do peso costumeiro, resolveu preparar estrogonofe com arroz branco, que eu adoro. O problema é que a minha cabeça estava completamente voltada para o estudo.

        — Renata, meu amor, você não quer comer um pouco antes de terminar sua dissertação?

       — Se você não tiver paz pra oferecer, Henrique, por favor, ofereça distância.

            Nem percebi tamanha grosseria quando tais palavras saíram da minha boca. Foi somente à noite, quando finalmente terminei de escrever a tal dissertação e fui pedir para o amor da minha vida lê-la, que me bateu aquela fome. 

            — Acho que vou fazer um sanduíche. Você quer também?

            — Amor, ainda tem estrogonofe na geladeira. Quer que eu esquente pra você?

              O estrogonofe. Gente, como é que fui me esquecer? Uma avalanche de culpa se apoderou de mim e, não tardou, as lágrimas se misturaram aos soluços. Henrique deixou de lado a leitura do meu trabalho final e foi me abraçar. 

           Jantamos juntos e, depois, fomos para o quarto. Logo adormeci, enquanto Henrique passou boa parte da noite entretido com a leitura da minha tese. Quando despertei, olhei para o celular para ver as horas. Quase nove horas. Meu esposo não estava na cama. Curiosa, fui à cozinha, onde o encontrei.

        — Bom dia, meu amor! Preparei bolo de cenoura pra comemorarmos. A dissertação ficou incrível!

         Rememorando todas essas coisas, percebo que o motivo dessa angústia que está me consumindo seja decorrente da necessidade de retomar os estudos. Chegou a hora de fazer meu doutorado. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Paciência nunca foi meu forte" foi publicado por Notibras no dia 23/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/renata-nunca-foi-de-ter-muita-paciencia-e-na-chegada-da-tpm-entao/

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Flerte na multidão

    

           Sei que somos mais tolerantes em relação às falhas dos nossos filhos, muito mais até do que com as nossas. Também não estou aqui para passar a mão na cabeça da minha prole, que, vez ou outra, me faz ter certeza de que a humanidade está cada dia mais perto de se extinguir. O que os meus falam de bobagens não tem tamanho. 

          — Mãe, esse lance de aquecimento global é invenção dos comunistas. Sabe, vi um vídeo de um cara...

          — Para, Luís Alberto! Por favor! Cale essa boca, que o povo não vai ter mais dúvida de que você é mesmo burro. 

          Fui grossa? Tenho certeza de que não o suficiente, pois, caso eu tivesse tomado uma atitude mais drástica, o mundo não precisaria mais conviver com o ignóbil do meu filho. Gente, como isso me irrita! Ainda mais quando olho para as estrias na minha barriga e tenho certeza de que elas estão ali por uma causa perdida.

          Viúva aos 64 anos, hoje perto de completar 70, conheci o Toni durante a posse do novo governante do país em 2023. Foi paixão quase à primeira vista, caso não fosse por conta dos óculos de grau defasados. Essas pequenas coisas que costumamos adiar até que, de repente, tropeçamos em alguma pedra de Drummond ou, não raro, o nosso pé se afunda em um buraco nas descuidadas calçadas de Brasília. Também, quem mandou morar em uma cidade que foi projetada para automóveis? Besta sou eu que insisto em fazer caminhadas por aqui.

          Antônio Carlos, o Toni, me surgiu sem o Jocáfi. Ih, se eu fosse tentar explicar essa brincadeira, os mais jovens não entenderiam. Então, prossigamos, pois o tempo urge. Um tipão ou, como minha saudosa irmã gostava de dizer, aquele pedaço de mau caminho que qualquer mulher de bom gosto trata logo de se embrenhar. Pelo jeito, tenho cá meus refinamentos e, por isso, mostrei de cara meu melhor sorriso, ainda mais porque fiz questão de fazer aquela revisão caprichada no dentista na semana anterior ao Natal. 

          Não sabia que o gajo era solteiro, mas suspeitei, pois ele estava sozinho. Aliás, até tive uma ponta de dúvida, pois o sujeito poderia ser a tal ovelha negra da família, tão cantada pela inconfundível Rita Lee. Vá que o cara era o único que havia votado contra a obscuridade.

          É verdade que não estava completamente enganada. O Toni, viúvo há mais tempo do que eu, morava no Rio de Janeiro. Quanto ao resto da família, que consiste no filho, na nora e dois netos, teria viajado para Miami, talvez na esperança de ficar por lá mesmo. Isso não aconteceu, pois logo o visto de turista venceu e a trupe retornou para o Brasil. Pior é que, contrários à vacinação, os abestados tiveram que tomá-la para entrarem nos Estados Unidos. É pra rir ou pra chorar?

          Após trocarmos algumas palavras enquanto tomávamos picolé, percebemos que nossa química batia. E bateu mesmo, como pudemos comprovar após aquela manhã ensolarada na capital. Por isso, a partir de então, Toni e eu vivemos na ponte aérea entre Brasília e Rio. E foi numa dessas viagens para Cidade Maravilhosa que conheci os membros da família do meu amado. 

          Não foi algo que me animasse, como já previa. É que o Toni já havia me alertado sobre seus parentes, que não são muito diferentes dos meus. Fico pensando se não foi por causa de tanta cloroquina que tomaram ou, então, se esqueceram das aulas de história. Ah, deixa isso pra lá!

          Se o Toni e eu queremos morar juntos? Confesso que até cogitamos tal ideia, mas logo desistimos. O motivo? Preferimos a clandestinidade a compartilhar nossos momentos com tanta gente insana. Ademais, ainda hoje guardo com carinho um dos últimos interlúdios que tive com mamãe.

          — Adelaide, nunca se esqueça de uma coisa.

          — E o que é, mamãe?

          — Não existe maior pecado do que a burrice.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Flerte na multidão" foi publicado por Notibras no dia 22/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/entre-clima-amor-e-terraplanismo-o-maior-pecado-e-a-burrice/

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Do que você gosta?

Do que você gosta?

Poema por Antonio Carlos -Tatalo – Fernandes, Edna Domenica Merola, Eduardo Martínez, Gilberto Pinto da Motta, Léa Palmira e Silva- Azaleia, Rosilene Souza, Taís Palhares.



Gosto de um gostar

Que impregna o ar

Retórica artística confessa

 Rumo a pessoas,

Afetivamente.



Gosto de livros

De um jeito professoral

Que afaga a escrita

Sem iludir você

Definitivamente,

               Gosto.

                          (Edna Domenica Merola)



Gosto do cheiro da chuva

     em uma t(ar)de de verão.

Do folhe(ar) da imagin-ação

Do despert(ar) da cri-ação



Da ilusão do amanhã

        a seme(ar)realiz-ações



          Gosto

                      da melodia em moviment-ação

    a distribu(ir) ondul-ações.

                                           (Rosilene Souza)



Gosto do barulho do mar.

De ver o sol nascer e se deitar.

Gosto de ouvir pessoas,

De sorrir e as vezes chorar,

Estar entre amigos,

Conversar,

Ouvir música,

Dançar...

               (Tais Palhares)



Gosto de escutar

histórias, músicas

Gosto de rever amigos

De ler um bom livro,

De ser grata

 a Deus

 e aos meus ancestrais.

 (Léa Palmira e Silva - Azaleia)



Gosto de dormir com as galinhas e acordar com os galos.

Gosto de receber a Lua e o Sol a cada segundo.

Gosto de saber que tudo é finito, pois me dá a noção maior de tudo que  vivemos em paz.

Gosto também de quiabo, jaca e jiló.

E gosto de vocês.

(Gilberto Pinto da Motta)



Eu gosto do seu rosto ao vento exposto ao ar.

Seus olhos semicerrados lhe impingem um ar de seriedade.

Vejo na cena a respiração profunda e a tranquilidade.

Sem satisfações a dar.



Venho por trás e a abraço.

Afago seu dorso com meus lábios

e procuro pelo seu ponto focal no ar.

Lá está você respirando levemente.

Atinge as profundezas com leveza.

Sem satisfações a dar.

           (Antonio Carlos -Tatalo - Fernandes)



Hum... Gosto de praia,

de ler em frente à praia,

de tomar café,

de ler tomando café.

De ler sei que gosto, muito mais do que de tantas coisas.

Gosto de ouvir a Dona Irene lendo.

De vez em quando, me perco no doce timbre da sua voz.

Gosto de ler, de praia, de café, da voz da minha mulher...

Ah, também gosto de melancia e sorvete de morango.

                                                         (Eduardo Martínez)



Antonio Carlos (Tatalo) Fernandes, professor titular convidado da COPPE/UFRJ de engenharia naval e oceânica. Foi membro do GTP (Grupo Teatral Politécnico da USP). No Rio de Janeiro, fez curso de dança de salão com Jaime Aroxa e de declamador de poesia com Elisa Lucinda. Participa da Tertúlia Poética e do curso de Claudio Carvalho. Participa do livro publicado "Ninguém Escreve por Mim" organizado pelo último e editado por Cassiano Silveira.



Edna Domenica Merola

Paulistana, desenvolveu pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, parcialmente publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001). É autora de A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011), No Ano do dragão ( Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).



Eduardo Martínez

Carioca, bacharel em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. É autor de quatro livros (Despido de ilusões, Meu melhor amigo e eu, Raquel, e o recente Contos e crônicas por um autor muito velho); além de dezenas de coletâneas. Escreve diariamente para o site de notícias Notibras.



Gilberto Motta: paulista, circense, jornalista, professor-mestre e aprendiz da vida. Rodou mundos e hoje escreve em paz em um chalé na Guarda do Embaú SC.



Léa Palmira e Silva – Azaleia - é "manezinha" (nasceu na capital de SC). Em 2013, participou do concurso de Narrativas e Poesias do Sindprevs/SC e, em 2018, do Concurso Literário da Academia Criciumense de letras -ACL. Fez o curso de Contadores de Histórias no NETI- UFSC., em 2001, e posteriormente, as oficinas: Teatro da Terceira idade e Escrita Criativa. Foi integrante da ABCH de 2015 a 2023. E da ACONTHIF desde 2001. Participa do Projeto anti-racista Retintas 1 e 2 com poemas.



Rosilene Souza

Mineira, desenvolve pesquisa nas linguagens artísticas: colagem, escrita criativa, fotografia e deficiência visual. Investiga o excesso de imagens e escritas consumidas e produzidas na sociedade. Participa de exposições, feiras e mostras de Arte. Tem trabalhos artísticos e literários publicados em revistas, livros (coletâneas "Do corpo ao corpus, organização Edna Merola, 2022", "Ninguém escreve por mim, organização Claudio Carvalho, 2024"; catálogos e blogs. Contos e ilustrações publicados pelo Café Literário no Notibras (2025).



Taís Palhares

Paulistana, participou do Ateliê de Escrita da Biblioteca do CIC - Floripa, SC - em 2019. É leitora de ficção que sabe o que quer. Participou do Café Literário com os títulos: Daqueles tempos distantes como "Baby, eu sei que é assim" e "Do interior para a senzala da cidade... e um bebê do patrão".

  • Nota de esclarecimento: O poema "Do que você gosta?" foi publicado por Notibras no dia 21/2/2025.
  • https://www.notibras.com/site/quem-vive-sem-gostar-sabe-sabor-do-desgostar/