A despeito de tamanha dependência, Juarez foi alçado a um cargo
público por conta da influência do pai, que era aliado de certo político de
renome. E foi justamente esse apadrinhamento que manteve o rapaz no emprego,
pois nunca se deu ao trabalho de aprender o serviço, mesmo nos períodos de
sobriedade. Pendurava o paletó na cadeira, pedia um café para a copeira. Sorvia
com sofreguidão o elixir dos sonolentos e, em seguida, dispensava a mulher, mas
com a condição da garrafa térmica ficar.
Apesar das tempestades que vinham e iam, Juarez passava meses
se esquivando da bebida. É verdade que a danada, vez ou outra, aparecia de supetão
em algum convite para aquela esticada após o expediente ou, não raro, por causa
de alguma comemoração na casa de amigos. Seja como for, o homem resistia até
onde dava pé e, não aguentando mais, se afogava na cerveja, no vinho ou na
cachaça.
Pois foi numa dessas ocasiões que Juarez perdeu de vez as
estribeiras. Pisou na jaca, chutou o pau da barraca, vomitou os bofes até dizer
chega. Só descobriu que retornou para casa no dia seguinte e, mesmo assim,
porque reconheceu a própria cama. Não se lembrava de como teria chegado ali,
até que o telefone tocou insistentemente, o que lhe aumentou o desconforto da
enxaqueca.
Para pôr fim àquele martírio, o homem
atendeu. Era o Leopoldo, seu colega de trabalho. Não demorou mais do que um
minuto de conversa para que o Juarez descobrisse que fora justamente seu amigo
que o carregou quase nos ombros até o lar, doce lar.
— Obrigado, Leopoldo. Eu te devo mais essa.
— Esquece, Juarez. Amigos são pra essas coisas.
— Puxa, valeu demais.
— Aposto que você deve estar com aquela ressaca.
— Tô, sim. Mas o pior mesmo é a ressaca moral.
- Nota de esclarecimento: O conto "Juarez e a ressaca" foi publicado por Notibras no dia 23/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/juarez-cai-na-tentacao-e-acorda-com-ressaca-moral/
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