Sujeito de raras pretensões além de passar o dia inteiro em
frente à praia do Costa, em Itacaré, Bahia, bebericando uma cerveja barata e
degustando qualquer petisco para encher o bucho, Esdras não via razão para se
frustrar em sonhos impossíveis. Não deseja possuir uma Ferrari nem morar numa
cobertura na Vieira Souto ou até mesmo passar férias em Paris.
Nada mais de pisar com sapatos apertados nas duras calçadas na
incessante gana por fechar aquele negócio das Arábias. O lance era andar
descalço à beira-mar, e a única pressa seria a da completa esbórnia. E que
todas as faturas fossem extintas por vontade popular.
Sentiu-se tão reconfortado com seus pensamentos, que acabou
adormecendo na rede na sacada. Sonhou que todos aqueles desejos eram reais, que
o aroma da maresia lhe chegava ao mesmo tempo do doce quebrar das ondas. Que
delícia! Só faltava sentir a espuma da cerveja tocando seus lábios.
Não demorou, Esdras saboreava aquela
bebida estupidamente gelada, quando algo começou a incomodá-lo. Ele havia se
esquecido de calçar as meias e, não tardou, a incômoda brisa começou a gelar
seus pés. O homem acordou, arregalou os olhos e, por fim, constatou o pesadelo
diante dos seus olhos.
_ Que droga!!! Nada mais cinzento do que
uma manhã fria de segunda-feira!
- Nota de esclarecimento: O conto "Vagabundo como todos nós" foi publicado por Notibras no dia 26/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/baiano-cai-na-real-e-pula-da-rede-para-trabalhar/
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