O ano, não sei ao
certo, mas foi pelos idos de 1952, 1953. Talvez pouco antes ou tanto adiante,
mas nada que atrapalhe a história, mesmo porque, naquela época, tudo me parece
meio embaralhado. Meus netos dizem que é por conta da memória falha própria da
idade. Tenho cá minhas dúvidas ou, então, sofro do mal que acomete boa parte
das pessoas, que é esquecer o passado para repeti-lo como se fosse algo inédito.
Dona
Albertina e seu Francisco, na casa dos 50 anos, possuíam onze filhos, sendo
apenas a caçula menina, Maria Aparecida. Ela recebera o nome como pagamento de
promessa à santa favorita da família, que há muito desejava uma garotinha. Não
que os outros filhos também não tivessem nomes de santos: Onofre, João,
Nicolau, Antônio, José, Sebastião, Pedro, André, Érico e Jorge.
Maria
Aparecida era venerada por todos, que chamavam a miúda de Cidinha. Apesar dos
mimos, ela não parecia mimada, mas gentil e amigável com todos. Além do mais,
ajudava a mãe nas tarefas do lar, enquanto os irmãos, todos em idade para
trabalhar, ajudavam o pai na padaria. Enquanto alguns faziam pão, bolos e
salgados, outros atendiam no balcão.
Certa
feita, mudou-se para a casa ao lado uma família quase tão grande como a da
Cidinha. Entretanto, era uma casa repleta de filhas e apenas um varão,
justamente o mais velho, que raramente dava as caras, pois estudava na capital.
As idades dos herdeiros das duas famílias se regulavam, inclusive das duas mais
novas. Helena, justamente a mais bonita, contava lá seus 16 anos, a mesma idade
da Cidinha e, naturalmente, fizeram amizade.
Érico e Jorge se encantaram pela linda garota e tentaram de
tudo para chamar a sua atenção. Todavia, Helena não parecia atraída pelos
rapazes. Comentava-se até que a donzela estivesse de namorico com outro, pois,
não raro, o carteiro entregava correspondência para a dita cuja.
Os enamorados, não se sabe se movidos por
bom propósito ou por puro despeito, foram ter uma conversa com o pai. Eles
disseram que não era de bom alvitre Cidinha ficar de conversa com Helena, pois
esta não parecia ser de confiança. Preocupado, seu Francisco chamou a filha
para uma conversa.
— Cidinha, todos nós não estamos gostando da
sua amizade com essa tal Helena. Os comentários sobre ela não são dos melhores.
Como nós não a conhecemos, é melhor você parar com essa amizade.
A garota, apesar de confusa, não quis
contrariar o pai. Nos dias seguintes, ela evitou a amiga, até que a própria
Helena deve ter percebido o que teria acontecido. Tanto é que nunca mais
procurou pela filha da dona Albertina e do seu Francisco.
Quando chegou a idade de casar, Cidinha foi
desposada por um homem escolhido pelo pai. Viveu uma vida quase idêntica à de
sua mãe, apesar da prole um pouco menor: oito filhos, todos com nomes de
santos. Quanto à Helena, não se sabe ao certo qual foi o seu destino, pois seu
nome foi deixado de lado até que caiu por completo no esquecimento.
- Nota de esclarecimento: O conto "Maria Aparecida, nome de santa" foi publicado por Notibras no dia 21/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/nome-de-santa-aparecida-teve-de-obedecer-ao-deus-pai/
Nenhum comentário:
Postar um comentário