— Há quanto tempo está no
ofício?
— Costumo falar que antes de
nascer. Meus pais, que também eram do ramo, se conheceram quando trabalharam na
mesma trupe. Mamãe, para você ver, quase me teve durante a apresentação. Foi
por pouco. Logo após os aplausos, nasci nas coxias.
— Deve ter sido tensa tal
situação.
— Para quem é do ramo, não
muito.
— Mas a sua mãe não era
malabarista?
— Sim. E papai era palhaço.
— Hum. Então, por que você
se tornou mágico?
— Porque quis.
— Mas por quê?
— Porque, sim.
— Mas não teve um motivo
especial?
— Vontade.
— Vontade de ser diferente?
— Vontade de ser mágico.
— Sem motivo?
— Seus pais são repórteres?
— Não.
— Por que você quis ser
repórter, então?
— Porque, sim.
— Mas deve ter tido um
motivo.
— Desejo.
— Hum. Desejo de ser
diferente?
— Peraí! Quem faz as
perguntas aqui sou eu.
— Pois é, o jornalista é
você.
— E você é o mágico.
— Exato.
— Então, sua vida é fazer
truques.
— Mágica.
— Mas mágica não existe.
— Existe.
— Hum... Você por acaso
possui poderes?
— Sou mágico.
— Então, você tem poderes?
— Sou mágico.
— Se é mágico, então, prove.
Diante de tamanha
indiscrição, o mágico se levantou e nunca mais apareceu. Não se teve qualquer notícia
dele. Talvez, tenha entrado em uma cartola. Ninguém sabe ao certo.
Escafedeu-se.
- Nota de esclarecimento: O conto "O mágico e o repórter" foi publicado por Notibras no dia 3/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/entrevistado-some-como-coelho-em-cartola-furada/
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