Havia dias, no entanto, que a mulher queria chutar o pau da
barraca, mas sempre conseguia segurar os ânimos. Ou era medo de que a vida
saísse dos trilhos ou, talvez, receio de que algo pior pudesse acontecer. Seja
como for, ela ficava parada na cozinha, observava a goiabeira pela janela e
dizia quase muda, que mal conseguia ouvir os próprios pensamentos: "Calma,
Rogéria, que um dia isso tudo passa!"
Lourdes, amiga dos tempos de adolescente, aparecia de vez em
quando para uma visita. E lá iam aquelas duas senhoras para o jardim, onde
degustavam chá com biscoitos sortidos. Entre futilidades e coisas mais urgentes
como preparativos de comemorações de aniversário de algum neto, trocavam confidências.
— Vida de dona de casa não tem fim,
Rogéria.
— É verdade, minha amiga.
— Mas pior mesmo é quando o marido não dá importância às nossas
dores.
— Nem me fale, Lourdes. Vivo com dores 24 horas por dia por
conta dos problemas na coluna e da fibromialgia, mas não reclamo.
— E o Luciano sabe disso?
— Ih, nem me atrevo a contar, pois nem adianta falar. Ele pensa
que não sinto dor, pois só as dores dele que importam. Elas têm prioridade na
vida dele. E isso é o que mais dói em mim!
- Nota de esclarecimento: O conto "As dores de Rogéria" foi publicado por Notibras no dia 11/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/dor-do-marido-doi-mais-que-as-dores-de-rogeria/
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