Do jeito que estou, que me venha um poema ou um conto do Daniel
Marchi. Melhor poesia, que me transporta para algo que pinga fora da prosa.
Ademais... De onde tirei esse ademais? Que seja ademais. Então, ademais, poesia
me perturba a mente, que vaga toda vagabunda por ruelas tipo aquelas próximas
ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio. Conhece? Pois deveria.
Ando desgostoso, não da vida, mas da humanidade. Que lástima
ter nascido preso ao corpo de uma espécie tragicamente fracassada. Que
duraremos pouco, não tenho dúvida, só não calculo o estrago que ainda poderemos
fazer. Enquanto isso não chega, e creio que ainda levará algumas gerações,
estou aqui apreciando meu café gourmet, ao mesmo tempo em que ouço os vizinhos
gritando gritos aos berros.
Aliás, dia desses, lá estava no Uber, quando resolvi puxar
assunto com o motorista. Quanta asneira em míseros quilômetros! É incrível a
capacidade que um homem possui de juntar tantas e tantas bobices numa só mente.
Somente numa!
Por sorte, na volta, peguei outro
motorista, este esclarecido. Contei-lhe sobre a viagem anterior, o que o fez
gargalhar, mas, logo em seguida, ficamos taciturnos. Pois é, taciturnos,
macambúzio, quietos, olhando para o trânsito que ia e vinha, como se alguns
carros quisessem fugir, enquanto outros talvez desejassem nos atingir em cheio.
Isso é que dá ter consciência de que não temos mais jeito.
Tudo está aqui dentro, mas nada acontece. Uma hora essa
vida tosca acaba. Só desejo estar confortavelmente acomodado em uma rede
preguiçosa na varanda, sonhando com a praia, que desejo estar logo em frente, o
barulho das ondas quebrando. Se o tempo ajudar, arrisco até um tchibum.
- Nota de esclarecimento: A crônica "Que nem hamster na roda" foi publicada por Notibras no dia 19/11/2024.
- https://www.notibras.com/site/vontade-de-mergulhar-em-aguas-frescas-mas-no-paranoa-nao-da/
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