Por sorte, ganho o suficiente para tais
mimos. Também faço questão de fazer duas ou três viagens anuais, sem contar
aquelas escapadelas para locais aqui perto. Sou uma privilegiada, como podem
perceber, e até gosto de falar para a minha irmã:
—Desculpa aí!
Ou, se preferir, aprendi uma recentemente
com o marido da minha grande amiga, a Dona Irene. Ele, toda vez que me conta
algo legal que conquistou, fecha a mão esquerda, mas com o dedo mindinho se
mexendo que nem minhoquinha, e solta essa:
— Morde aqui de inveja!
Hoje, ao contrário da maior parte dos
dias, não acordei de bom humor. Mesmo assim, jurei que guardaria todo o meu azedume
na gaveta. E estava me saindo dignamente bem, até que resolvi ir ao
supermercado.
Mal cheguei, coloquei algumas
coisas no carrinho. Quase chegando ao caixa, vi aquelas roscas de polvilho. E
lá fui pegar uma. Gente, por que estou mentindo? Peguei logo três. Nisso, um
senhor, que devia estar beirando os 90 anos, puxou conversa comigo.
— Ei, moça, isso é bom?
— Ah, eu gosto.
— Não perguntei se você gosta, mas se é bom.
Não sei o que me deu, mas na hora me lembrei do gesto do marido da Dona Irene e, então, fiz uma versão nada politicamente correta. Fechei a mão, é verdade, mas, em vez de ficar mexendo meu dedo mindinho, dei aquela estirada no maior de todos.
- Nota de esclarecimento: O conto "Quase um dia como outro qualquer" foi publicado no Notibras no dia 1º/11/2024.
- https://www.notibras.com/site/quase-um-dia-como-outro-qualquer-nao-fosse-um-chato/
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