quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Cadê os pés de porco?

   

         Leopoldo, o mecânico mais afamado da região, gostava de acordar tarde, mas precisava abrir a oficina logo cedo, ainda mais porque havia clientes saindo pelo ladrão. E, por falar em apreciadores do alheio, eis que aconteceu algo por esses dias, que deixou o gajo de cabelo em pé. 

          Como era sábado, um dos clientes, o Vicente, resolveu fazer um churrasquinho enquanto esperava o Leopoldo consertar seu automóvel, um Opala 1973, verde que nem abacate. Colocou carvão na pequena churrasqueira e ficou por quase meia hora tentando acender o fogo, mas nada. Nisso, o churrasqueiro de primeira viagem foi buscar socorro no Gilmarildo, que sempre andava por ali na caça de boa prosa. 

          — Gilmarildo, tudo bem?

          — Opa, Vicente! Tudo certo! E com você?

          — Tudo. Você pode me dar uma força?

          — Diga lá!

          — Sabe acender fogo?

          — Quer incendiar o quê, homem?

          — O carvão ali.

          — Hum... Vai rolar um churrasquinho?

          — É. Comprei um cupim e uns pés de porco.

         Gilmarildo, com toda sua expertise de churrasqueiro, conseguiu acender o fogo em poucos minutos, para alegria do colega. No entanto, tal regozijo se transformou em desespero em seguida. É que o Vicente havia colocado as carnes dentro de uma caixa de isopor, que agora estava ali tombada e destampada. 

          — Ué, cadê meu cupim? Cadé meus pés de porco? - Vicente choramingou.

          Busca daqui, busca de lá, busca até de acolá, mas nada de encontrar a carne. Quer dizer, o Leopoldo, percebendo aquela quizumba, ficou cabreiro e, bobo que não era, logo percebeu que naquele mato tinha coelho. Aliás, cachorro!

          Não tardou, o mecânico encontrou o Caneco, o vira-lata da oficina, debaixo do Opala do Vicente, degustando os pés de porco. Quanto ao cupim, nem sinal. Certamente já estava no bucho do cachorro. 

          Para evitar imbróglio com o cliente, Leopoldo resolveu pedir no açougue ao lado um cupim e quatro pés de porco. Todavia, manteve em segredo a falcatrua do seu funcionário de quatro patas. Afinal, apesar de aprontar de vez em quando, era o que lhe dava menos dor de cabeça. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Cadê os pés de porco?" foi publicado por Notibras no dia 14/11/2024.
  • https://www.notibras.com/site/caneco-vira-o-isopor-e-some-com-os-pes-de-porco/

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