Não sei exatamente em que ano aconteceu,
mas foi lá pelo início dos anos 1990 na antiga agência do Banco do Brasil
localizada na esquina da rua Figueiredo Magalhães com a avenida Nossa Senhora
de Copacabana, no Rio de Janeiro. Nessa época, a inflação era galopante e, por
isso, o banco vivia lotado, especialmente nos dias 5 e 10, quando eram as datas
de vencimentos de contas como, por exemplo, luz e água.
Apesar trabalhar numa agência, o meu
atendimento com o público acontecia através de telefonemas, pois eu mexia com
devolução de cheques. E o meu setor ficava na parte superior da agência, em uma
sala onde apenas outros funcionários tinham acesso. Era um serviço legal, pois
eu entrava às 8 e saía às 14h, o que me dava o resto do dia para ir ao cinema,
à praia ou mesmo ficar de bobeira.
Uma outra coisa que você precisa saber é que,
naquele tempo, as agências não possuíam aquelas portas giratórias, o que
tornava o entra e sai muito mais ligeiro. Por conta disso, o local, de uma hora
para outra, ficava apinhado de clientes, o que tornava o ambiente completamente
caótico.
Pois bem, lá por volta das 12h, quando o meu
serviço já estava praticamente finalizado, eis que a gerente do atendimento da
parte inferior entrou desesperadamente na minha sala.
— Dudu, você precisa me salvar!
— O que houve, Nágila?
— A agência tá parecendo a
quadra da Mangueira no último dia de ensaio.
A minha colega me pediu para ficar na porta
da agência a fim de controlar o acesso dos clientes. Dessa forma, lá fui eu
enfrentar aquela multidão. Não sei como, mas consegui fazer com que o público
formasse uma fila na calçada. Certamente não foir por causa do meu físico de levantador
de palito, mas creio que o crachá de funcionário do Banco do Brasil pendurado
no pescoço ajudou.
A orientação que eu havia recebido é a de
deixar um cliente entrar na agência quando outro saísse. E tudo corria bem, até
que um cara enorme, desses que parecem sair dessas revistas de halterofilistas,
parou diante de mim. Para você ter ideia do tamanho do sujeito, precisei
levantar um pouco a cabeça para ver o seu rosto, e olha que eu me encontrava no
piso da agência, que ficava a aproximadamente 20 centímetro acima da
calçada,
— Preciso entrar.
— Senhor, toda essa gente na fila também precisa.
— Mas a minha mulher tá aí dentro.
— Ah, tá. Minuto.
No entanto, antes que eu pudesse pedir para alguém procurar pela esposa
do cara, eis que ela apareceu e, educadamente, me indagou.
— Você pode deixar o meu marido entrar?
— Claro que sim.
Nisso, o grandalhão, antes de entrar na agência, me deu um
esbarrão no ombro e solta essa:
— Babaca!
Como não sou de briga, ainda mais diante de tamanha
disparidade de categorias, pois estou mais para peso palha, minha atenção
ligeiramente retornou para a fila, que já dobrava a esquina. Naquela hora, eu
só desejava que desse a minha hora de ir embora para casa, trocar de roupa e
correr para a praia.
E lá estava eu, escriturário do Banco do
Brasil, mas exercendo a função semelhante a de porteiro de boate na Lapa,
quando o troglodita e a esposa saíram da agência. O problema é que o cara, já
na calçada, apontou o dedo na minha cara e profetizou:
— Vou te pulverizar, moleque!
As pessoas mais próximas, inclusive o Alcir, um dos
seguranças da agência, olharam aquela situação. E eu lá, em pé diante daquela
massa furiosa de músculos, prestes a virar poeira. Mas eis que, não sei se por
medo ou confiante no meu crachá de funcionário do Banco do Brasil, que
continuava pendurado no meu pescoço, respondi:
— Tá bom, senhor. Mas pode ser depois das 14 horas? É que
agora estou no meu horário de trabalho.
Todos ao redor começaram a rir e, para a minha sorte, até a
esposa do cara parece que ficou ao meu lado.
— Maurício, deixa de ser ridículo! O garoto está
trabalhando!
E lá foi aquele ogro, que certamente iria me pulverizar,
puxado pelo braço pela amada. E a galera da fila, obviamente, não deixou
barato, pois surgiu uma saraivada de gritos:
— Otário!
— Imbecil!
— Ridículo!
—
Ei, Maurício! Cuidado pra não apanhar em casa!
O meu sobrinho, provavelmente, nunca vivenciará momentos tão tensos
na sua carreira no Banco do Brasil. É que Copacabana é outro nível. E eu amo
aquele lugar!
- Nota de esclarecimento: A crônica "Um dia como outro qualquer no Banco do Brasil" foi publicada por Notibras no dia 7/10/2024.
- https://www.notibras.com/site/um-dia-como-qualquer-um-numa-agencia-do-bb/
Nenhum comentário:
Postar um comentário