Melhor ainda. O apartamento do Augusto ficava
um andar acima, o que lhe dava visão privilegiada do dia a dia da Júlia. Esta,
talvez até para provocar um enfarte no vizinho octogenário, vez ou outra,
desfilava apenas de calcinha e sutiã. Que morresse, mas de modo digno!
Aos 34 anos, caminhava firme pelas calçadas,
enquanto uma horda de marmanjos babava. Os pés da moçoila, confortavelmente
acomodados num chamativo par de tênis verde-limão, decididos que eram, iam e
voltavam da academia na esquina. Alguns, mais atrevidos, a cumprimentavam com
sorrisos embasbacados.
Rômulo, um dos mais velhos do local, até cogitou a ideia de se
matricular, pois já não conseguia esconder a barriga todas as vezes que Júlia
passava. Todavia, preferia não arriscar ter um enfarte levantando pesos e
fazendo caminhadas sem sentido na esteira. Se iria morrer, que fosse comendo
torresmo e tomando uma gelada no botequim do Joca.
Certa feita, um conversível estacionou em
frente ao prédio de Júlia, que, não tardou, apareceu na janela e deu um
tchauzinho. Todos notaram, ainda mais porque um velho, que tinha no mínimo
idade para ser avô da lindona, desceu do veículo. Pior, ele foi em direção à
portaria, entrou e, alguns minutos após, já estava no interior do apartamento
da mulher mais desejada da região.
O idoso, que usava uma bengala, foi até a janela e percebeu que
um outro velho, no apartamento do edifício em frente, o encarava. Sem qualquer
cerimônia, o ancião de cá fechou a janela, o que instigou a curiosidade do Augusto.
O que aquele ser decrépito estaria fazendo justamente no apartamento da Júlia?
Seria um amante rico?
A fofoca se espalhou por todo o bairro, ainda mais porque ninguém
sabia ao certo o que estaria acontecendo atrás das cortinas. Quase duas horas
após, eis que o idoso de bengala saiu pela portaria, entrou no veículo e, antes
de partir, ainda acenou para a pantera na janela. Ela, por sua vez, beijou a
palma da mão e soprou em direção ao, agora todos tinham certeza,
amante.
Ninguém falava de outra coisa. Júlia, com todos aqueles
atributos, havia mesmo se metido com um homem tão ou mais velho do que todos
ali na região. Isso, aliás, despertou esperanças naqueles machos envelhecidos.
Se ela namorava um senhor de pra lá de 80 anos, qualquer um dali teria chance
de se aninhar nos braços da gatona.
A partir de então, Júlia passou a ouvir cantadas daqueles
que, até há pouco tempo, eram apenas babões e nada mais. A princípio, ela achou
graça, até que, talvez por conta dos dias do mês, começou a dar patadas. Não
raro, saía um ou outro palavrão daqueles lábios carnudos.
Um dia, porém, Júlia surgiu vestida de preto. Triste que
estava, foi consolada por uma idosa, que, até então, era desconhecida dos
moradores dali. Denise, vizinha do andar da moça, ficou intrigada. O que teria
acontecido?
Investiga daqui, investiga dali, a futriqueira acabou descobrindo. Aquela velha era a avó da Júlia. O motivo do luto? Ah, é que o homem do conversível havia falecido. Ele, afinal, era o avô da bonitona.
- Nota de esclarecimento: O conto "O pitéu" foi publicado por Notibras no dia 30/10/2024.
- https://www.notibras.com/site/fofoca-envolvendo-nome-de-julia-acaba-na-morte-do-avo/
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