Após um ano correndo atrás de editora,
consegui publicá-lo no final de 2004. Nos meses que se seguiram, vendi um
exemplar aqui, outro ali, até que recebi um telefonema de uma também
funcionária do BB, a Cecília, que trabalhava no Centro Cultural Banco do
Brasil. Ela queria saber onde poderia comprar mais exemplares do meu livro,
pois eu havia doado dois para a biblioteca. É que "Despido de
ilusões" se tornou, naquele tempo, o livro mais solicitado, e assim
permaneceu pelos próximos quase dois anos.
Algum tempo após, recebi um cartão de
felicitações do então senador Marco Maciel, que era membro da Academia
Brasileira de Letras. Tudo parecia caminhar para o meu sucesso como escritor.
Logo repórteres de todo o país, quiçá do mundo, estariam batendo à minha
porta.
Não aconteceu, apesar de eu ter ainda
lançado dois livros nos anos seguintes, até que a ideia de me tornar escritor
foi se apagando e, em 2012, voltei a ser apenas o leitor ávido que sempre fui.
E, no tempo que me sobrava, ocupava com viagens, filmes. Foi nessa época que
fiz minha terceira graduação: engenharia agronômica.
De vez em quando, a minha esposa (Dona
Irene) e a minha filha mais velha (Ninica) falavam para alguém que eu era
escritor. Sempre respondia que eu havia escrito alguns livros e nada mais, bem
como era algo do passado, que a minha vida tomara outros caminhos. A Ninica
ficava chateada com isso, enquanto a minha mulher parecia melhor atriz.
Corria o ano de 2021, mais precisamente
o dia 23 de dezembro, quando a Dona Irene me telefonou.
— Edu, você precisa voltar a escrever!
Tentei falar que não, mas ela,
irredutível que sempre foi, me mandou escrever um texto, por menor que fosse.
Minha amada falou que iria criar um blog para que eu pudesse publicar meus
escritos. Na verdade, não tinha nem ideia do que a Dona Irene estava falando, pois
eu nem sabia como era aquela coisa de blog.
No início daquela noite, a Dona Irene pegou o
computador, mexeu daqui, mexeu dali, começou a criar um blog. De repente, ela
parou, olhou para mim e abriu aquele sorriso lindo.
— Edu, qual o nome?
— Nome?
— É. Qual o nome do seu blog?
— Sei lá?
— Hum... Já sei. Muitas pessoas te
chamam de Dudu. Então, vai ser Blog do menino Dudu.
Minha mulher postou alguns textos que
escrevi e, após alguns minutos, já haviam alguns acessos e curtidas. A partir
daquele momento, voltei a escrever, mas num ritmo alucinante, como se aqueles
anos todos de abstinência tivessem represado tantas e tantas ideias.
Desde então, meus textos foram lidos por
tanta gente, que era difícil acreditar, sem falar nos prêmios que passei a
ganhar. No entanto, algo muito melhor aconteceu nos meses que se seguiram. É
que os meus contos e crônicas começaram a ser usados em escolas no Rio de
Janeiro e em Brasília.
Em novembro de 2022, conheci as turmas do
professor Leandro Mendes, que usava meus textos em sala de aula. Esse momento
acabou sendo publicado no site de notícias Notibras, o que me deu certa
visibilidade. Mas a coisa não parou por aí.
Dias após a matéria sobre o meu encontro
com os estudantes do CEF 102 Norte, lá em Brasília, eis que o jornalista José
Seabra, então Editor-Chefe do Notibras, me telefonou. Ele queria saber se eu
tinha algum conto para ser publicado no jornal. Mandei um recente:
"Almerinda, a empregada doméstica".
Novo telefonema alguns dias após do Seabra,
ele me perguntou se eu possuía outros contos. Mandei outro, depois outro e,
algumas semanas depois, o Seabra me confidenciou algo que me deixou nas nuvens.
— Edu, seus contos e crônicas são
um sucesso. Os leitores de Notibras estão encantados.
— Que legal!!! Você quer que
eu mande mais?
— Claro que sim!
— Quantos?
— Se você quiser, pode
publicar todos os dias.
E foi assim que a literatura,
que estava adormecida, voltou a tomar o devido lugar na minha vida. Agradeço a
tantas pessoas, mas não posso me esquecer da Dona Irene, da Ninica, dos
professores que utilizam meus textos em sala de aula. Tanto é que, na noite da
última quarta-feira, 16 de outubro. telefonei para o José Seabra.
— Chefe, amanhã voltarei a encontrar as
turmas do professor de literatura Leandro Mendes. Serão dois dias. Já será a terceira vez que irei lá. E pensar que foi graças ao primeiro encontro que a minha história
no Notibras se iniciou.
Os
repórteres de todo o país e do mundo jamais bateram à minha porta. Todavia,
isso é algo tão pequeno diante do brilho dos olhos daquela garotada toda vez
que entro na sala de aula e temos aqueles momentos que jamais imaginei viver.
Nada se compara àquilo. Nada mesmo!
- Nota de esclarecimento: A crônica "A literatura na minha vida" foi publicada por Notibras no dia 21/10/2024.
- https://www.notibras.com/site/um-empurrao-aqui-outro-ali-e-as-palmas-dos-alunos/
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