quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O informante

          

           Já faz um bom tempo que publico diariamente contos e crônicas no Notibras. Por isso, chega um momento em que as ideias para histórias vão se escasseando. Daí, uso uma artimanha que, talvez, outros escritores também utilizem: a crucial figura do informante. 

          Pois é, tenho cá as minhas fontes, algumas secretíssimas, guardadas a sete chaves; outras, nem tanto. Aliás, talvez o meu informante mais preocupado com o sigilo seja o Boca. Vamos chamá-lo assim, já que, como ele mesmo gosta de falar: "Edu, o anonimato é a melhor coisa que existe!"

          Frequentador de ambientes extremamente prolíferos de acontecimentos quase inverossímeis, caso não fossem todos verdadeiros e que poderiam até sair dos lábios do Papa Francisco, o meu amigo sempre me traz algo que viu ou ouviu na banca do Guima ou, então, na famosa oficina do Leopoldo. Quanto à minha parte, faço questão de não dar pistas de que as histórias se passaram nesses recintos. 

          O que eu não havia percebido é que o Boca é um excelente personagem para as minhas crônicas. Pense você em um sujeito que poderia muito bem sair das páginas daqueles mistérios desvendados pelo Sherlock Holmes. Não! Também não seria possível colocá-lo ao lado do outro quase tão famoso detetive, Hercule Poirot. 

          Não sei se você é afeito aos antigos filmes da Atlântida, quando os impagáveis Grande Otelo e Oscarito provocavam gargalhadas nos cinemas brasileiros. Pois bem, o Boca é uma figura que poderia ficar no meio do caminho entre os saudosos Wilson Grey e José Lewgoy, dois dos maiores atores daqueles idos. É que o meu informante insiste em cultivar um bigode singular, possui aquele olhar de peixe morto, além da voz arrastada para provocar suspense, mesmo quando me revela as coisas mais banais. 

        O Boca, aliás, trabalha como representante comercial de cosméticos. No entanto, gosta de ostentar aqueles óculos escuros e sempre caminha desconfiado de que está sendo seguido. Talvez ele se imagine em um filme de James Bond, mas sem aquela presença do Sean Connery ou o glamour do Roger Moore. 

        A minha fonte é um tipo comum, mas com a imaginação de Alice, aquela mesma de um certo país repleto de maravilhas. Aliás, nem sei por qual motivo me deu vontade de escrever sobre o meu amigo. Talvez seja porque acabei de ler o romance "A fonte", do escritor e jornalista José Seabra.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "O informante" foi publicada por Notibras no dia 3/10/2024.
  • https://www.notibras.com/site/fonte-quando-e-boa-serve-para-reporter-e-cronista/

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