Romeu, que sempre fora afeito a obedecer, aceitou de bom grado
aquele mando e desmando de Julieta. Tanto é que, um mês após se conhecerem, ela
o intimou a ser seu namorado. O rapaz nem cogitou refugar e, no final do ano,
já estavam casados de papel passado.
O casal, alguns poderiam dizer, não completaria bodas de papel.
Ledo engano, pois, após quase quarenta anos de união, Julieta e Romeu estavam
para completar bodas de esmeralda. Desavenças, é óbvio, que também aconteciam
de vez em quando, mas nada que fugisse do normal entre duas pessoas que vivem
juntas. Seja como for, tais querelas nunca ganhavam corpo, tamanha a
impetuosidade da esposa.
Não pense você, a propósito, que Julieta fosse uma megera. Tal
pensamento, aliás, seria uma injustiça com aquela mulher, que também sabia ser
carinhosa e fazer o marido ter lá seus tremeliques. Mas deixemos a intimidade matrimonial
e tratemos de outros assuntos.
Pois bem, lá estavam os dois pombinhos deitados na rede da
varanda, quando o agora sessentão Romeu deu um carinhoso beijo na face rosada
da amada. Ela fechou os olhos e sorriu aquele sorriso de quem sabe que havia
escolhido o homem certo para casar. E foi justamente nesse momento que o homem,
segurando a mão da esposa, propôs o seguinte interlúdio.
— Julieta, meu amor, será que consigo chegar aos 80 anos?
— Não sei, mas se você conseguir, quero viver pelo menos até
os 90.
— Por quê?
— Pra eu ter pelo menos 10 anos de paz.
- Nota de esclarecimento: O conto "Um outro caso de Romeu e Julieta" foi publicado por Notibras no dia 21/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/brasilia-assiste-a-um-outro-caso-de-romeu-e-julieta/
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