quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Falta de tato

    

            Não que fosse tão chato. Bem, a palavra adequada não é essa, assim como também não seria cricri. Talvez, usando a vastidão do vernáculo, cheio de dedos seja o que temos para os paladares mais requintados ou, então, o corriqueiro arroz e feijão.

          Lourdes Maria, mulher de família tradicional. Melhor! Era também abastada e poliglota e, talvez por conta de tantos predicativos, não possuía muita paciência com essa gente sem tempo para os livros. E não era sua culpa se a pobreza atingisse esse povo. Seja como for, vez ou outra, a madame se deparava com um desses habitantes sem classe, como aconteceu por esses dias, justamente na quitanda do seu Gomes. 

          — Sabe qual é o seu pobrema?

          — Problema, meu amigo!

          — Ué, já tamo assim de amizade?

          — Prossiga, que meu dia é longo.

          — Num sabia que dia de rico tinha mais que 24 horas.

          — Milhões de compromissos. Não posso perder meu tempo com tolices. Vou-me, antes que a agressão vá além do acinte contra o dicionário.

          — Dona Lourdes Maria, pelo visto, a senhora não tá perparada pra vida.

          — Hum, pois, sim! Eu é que não estou pre-pa-ra-da? Pois me parece que é justamente o senhor o desprevenido.

          — Como mamãe sempre dizeu lá em casa, a vida é uma sopa, mas tem gente que só sabe usar galfo. E se ela dizeu isso, eu também dizo e tenho dizido! 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Falta de tato" foi publicado por Notibras no dia 12/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/lourdes-maria-impaciente-se-coca-ao-ouvir-muitas-razoes-do-seu-pobrema/

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