Lourdes Maria, mulher de família tradicional. Melhor! Era
também abastada e poliglota e, talvez por conta de tantos predicativos, não
possuía muita paciência com essa gente sem tempo para os livros. E não era sua
culpa se a pobreza atingisse esse povo. Seja como for, vez ou outra, a madame
se deparava com um desses habitantes sem classe, como aconteceu por esses dias,
justamente na quitanda do seu Gomes.
— Sabe qual é o seu pobrema?
— Problema, meu amigo!
— Ué, já tamo assim de amizade?
— Prossiga, que meu dia é longo.
— Num sabia que dia de rico tinha mais que 24 horas.
— Milhões de compromissos. Não posso perder meu tempo com
tolices. Vou-me, antes que a agressão vá além do acinte contra o dicionário.
— Dona Lourdes Maria, pelo visto, a senhora não tá perparada
pra vida.
— Hum, pois, sim! Eu é que não estou pre-pa-ra-da? Pois me
parece que é justamente o senhor o desprevenido.
— Como mamãe sempre dizeu lá em casa, a vida é uma sopa, mas
tem gente que só sabe usar galfo. E se ela dizeu isso, eu também dizo e tenho
dizido!
- Nota de esclarecimento: O conto "Falta de tato" foi publicado por Notibras no dia 12/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/lourdes-maria-impaciente-se-coca-ao-ouvir-muitas-razoes-do-seu-pobrema/
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