domingo, 29 de setembro de 2024

O dia em que o Eduardo Martínez morreu

          Eis que estou preparando o café da manhã para a minha amada, a famosa Dona Irene, quando ouço o barulho de mensagem chegando pelo WhatsApp. Normalmente, nem me dou ao trabalho de olhar o celular antes de terminar de fazer o pão frito e o café com leite da minha mulher, mas eis que ela me grita: "Edu, o Leandro mandou uma mensagem pra você!"

          Trata-se do professor de literatura Leandro Mendes, lá de Brasília, que utiliza meus contos e crônicas nas aulas. Dessa vez, recebo um lindo desenho feito por um dos seus alunos, o João Victor. Obviamente que meu ego vai às alturas, até que a minha esposa me grita de volta para a realidade: "Edu, tem que trocar a fralda da Malulinha!"

          Pois é, para quem pensa que vida de escritor é cheia de glamour, digo que não é bem assim. Não que esteja reclamando, pois adoro a minha profissão, que me dá oportunidade de conversar com leitores, seja através de mensagens na internet, seja nas escolas que sou convidado, seja até mesmo na rua, quando alguém me para: "Ei, você é o Eduardo Martínez?"

            Hoje, no entanto, quero falar de algo que aconteceu na última quarta-feira, dia 25 de setembro de 2024. É que nessa oportunidade também ouvi a doce voz da minha esposa: "Edu, chegou mensagem no seu celular. É do Leandro!"

            E lá fui olhar a mensagem do meu amigo. Era um áudio. Ele dizia que estava utilizando mais um dos meus textos em sala de aula. No entanto, o Leandro pediu para que seus alunos fizessem uma pesquisa na internet sobre mim. Não demorou, os alunos falaram: "Professor, esse Eduardo morreu!"

        O Leandro tomou aquele susto e, em seguida, percebeu que os alunos haviam feito a pesquisa de forma equivocada. Os estudantes, depois, colocaram meu nome corretamente e, então, descobriram um pouco sobre mim. 

           Assim que terminei de ouvir o áudio do Leandro, comecei a gargalhar. A Dona Irene veio me perguntar se eu estava bem, quando coloquei a mensagem para ela ouvir. Não tardou, lá estávamos nós dois rindo juntos. Mas a coisa não parou por aí. É que não resisti e mandei o áudio para alguns amigos, que me mandaram várias mensagens divertidas.

             "A internet matando o Eduardo Martínez, olha só."

          "Ai, credo!!! Que mané morreu! Graças a Deus vivinho da Silva e vendendo saúde. Que legal esse professor!"

           "É porque te acharam do nível do Machado de Assis. Pensaram: Autor bom assim não é dos tempos atuais."

          "Isso dá uma boa história: o dia em que o Eduardo Martínez morreu e viveu... Em uma bela quarta-feira tive a triste notícia do meu falecimento..."

               "Depois que o escritor morre é que aparece o gênio e o bicho bomba muito."

               Entre tantas mensagens, pensei que talvez devesse mudar meu nome para algo mais incomum. Entretanto, creio que fazer isso após 20 anos de ofício não seria prudente. Ademais, quem mandou eu ter o mesmo nome de outros tantos? Sorte do poeta e escritor Daniel Marchi, que nasceu com o sobrenome mais raro. 

             Como falei, a vida de escritor não é a que algumas pessoas imaginam, que seja repleta de noites de autógrafos, entrevistas, críticas positivas vindas de toda parte. Tenho cá algumas fraldas para trocar. Todavia, esses momentos inusitados me dão a certeza de que vale a pena tanta dedicação. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "O dia em que o Eduardo Martínez morreu" foi publicada por Notibras no dia 29/9/2024.
  • https://www.notibras.com/site/zap-anuncia-o-dia-em-que-o-eduardo-martinez-morreu/

Nenhum comentário:

Postar um comentário