Papai nunca me falava isso é errado ou certo. Ele gostava de
contar histórias e, no final, deixava-nos tirar nossas próprias conclusões.
Juliano, meu irmão, tagarelava ideias, enquanto eu preferia ir até o quintal,
onde me deitava no chão ao pé da pitangueira imaginando coisas. De vez em
quando, floreava, mas certas conjunturas me mostraram que a vida pode ser dura
e, geralmente, é o que temos.
Com minha mãe, aprendi a degustar as amarguras da vida. Pode
parecer estranho aos que imaginam que os momentos a serem lembrados devam ser
os felizes. Discordo. Se fosse assim, o que teríamos para lembrar? A bicicleta
que ganhamos no Natal? O primeiro beijo na boca? Prefiro recordar o dissabor do
pote de sorvete carregado de lágrimas após qualquer uma das tantas desilusões
amorosas.
Juliano, assim como todos os homens que conheço, é fraco. Não
consegue entender como é que consigo enxergar o mundo de maneira tão
pessimista. Na verdade, meu pobre irmão desconhece que as pessoas nunca estão
verdadeiramente felizes. Somos meros animais permanentemente insatisfeitos em
busca de prazeres efêmeros.
— Isabel, por que você é tão pessimista?
— Juliano, meu querido e amado irmão, aprenda uma coisa.
— O quê, minha irmã?
— Tirando o Elvis, todos nós já nascemos fadados a morrer.
- Nota de esclarecimento: O conto "Breves prazeres" foi publicado por Notibras no dia 13/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/isabel-realista-indica-que-estamos-fadados-a-morrer/
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