Não que Laureano fosse um completo imbecil, mas os que o conheciam
afirmavam que o gajo estava bem perto de se tomar para si o título de mais
ingênuo bípede que andava pela disputada praia de Arapuama, na cidade do
Cabo de Santo Agostinho-PE. Ele, aliás, que vivera a puberdade na turbulência
dos anos 1960, agora gozava a aposentadoria em uma bela casa no famoso
balneário.
Solteiro por conta da dedicação praticamente
exclusiva ao serviço público por quase quarenta anos, caso não fosse a paixão
por damas, que lhe tomava o tempo restante em partidas infindáveis com dois
amigos, Laureano se aproximava dos 70 anos. Não que o homem não tivesse tido
uma vida amorosa, mas nada além de breves romances que se foram com a chegada
dos outonos.
A residência do velho fazia fronteira com o
lar de Gilda, com quem regulava em idade. Viúva, fogosa que nem Gabriela,
parece que teve diversão muito além do casamento. E, a despeito do avançar dos
anos, mantinha a pele viçosa, talvez por conta de uma receita que aprendera ainda
mocinha, cuja compostura deste contador de causos não permite dizer qual. Que a
imaginação da leitora ou do leitor tenha a liberdade necessária para supor o
que quiser. Afinal, o pensamento é livre!
Mas voltemos à história, antes que alguém resolva dirigir
impropérios à minha pessoa. Então, como ia dizendo, Gilda e Laureano eram
vizinhos e desimpedidos, uma combinação fatal para enlace amoroso. É verdade
que muito mais pelas intenções da mulher, que fazia reposição hormonal para não
perder o rebolado. Quanto ao septuagenário, tudo indicava que estava disposto a
trocar as damas pela dama, que, naquele domingo, lhe pareceu muito mais
atraente.
Não foi preciso convite para cinema ou jantar à luz de velas.
Direta que era, Gilda, após uma água de coco num quiosque à beira da praia,
segurou a mão de Laureano e o levou para debaixo dos lençóis. Tiveram uma
tórrida manhã de amor, isto é, levando-se em conta a idade e condição física do
amante.
A velha, mais que calejada, poderia ter dispensado o vizinho
após a performance, mas não o fez. Nem ela soube explicar o motivo pelo qual
ainda quis se relacionar com Laureano. Quer dizer, não soube até o último
encontro dos dois. É que, após se amarem, o casal teve o seguinte interlúdio:
— Gilda, meu amor, acho que estou apaixonado
por você.
— Adoro essa sua maneira de ver a vida,
Laureano.
— Como assim?
— É que você se ilude de um jeito tão fofo.
- Nota de esclarecimento: O conto "Paixão na terceira idade" foi publicado por Notibras no dia 28/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/paixao-em-praia-do-cabo-acaba-em-cabo-sem-esperanca/
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