E não me
venham com batata frita, que até gosto, mas não chega nem perto da nossa
brasileiríssima maniva, também conhecida por castelinha. Eita, Brasil grandão,
onde para cada região tem pelo menos um nome diferente para esse alimento que
está entranhado nas nossas raízes. Aliás, para quem não sabe, o aipim é mesmo
uma raiz.
Seja
qual nome você escolher, repito, não estou aqui para falar desse que, junto à
carne de sol, é o meu prato favorito, ainda mais quando regado à manteiga de
garrafa. Pois o assunto é outro, que há tempos conheço como sete e meio, que é
uma espécie de jogo de cartas similar ao vinte e um, tão comum nos cassinos.
Também
não vou aqui me preocupar em dar explicações sobre regras, pois esta é uma
crônica e não um manual de jogos. Pois bem, lá estávamos a minha filha do meio
e eu brincando de sete e meio, quando ela teve a ideia de trocar os feijões por
notas de outro jogo, banco imobiliário. Fizemos a divisão das cédulas e
começamos a jogar.
Entre
uma partida e outra, dependendo das cartas em nossas mãos, apostávamos mais ou
menos. É óbvio que, de vez em quando, blefávamos. E tudo acontecia com as
deliciosas gargalhadas da minha menina, quando ela, audaciosa que sempre foi,
deixou de baixar as notas de um, dois, cinco, dez, cinquenta, cem e até as de quinhentos
e, sem qualquer aviso, lançou-me aquele olhar desafiador e tacou uma de mil na
mesa. Mesa que nada! Estávamos brincando no tapete da sala.
Mas voltemos a esse momento que,
definitivamente, mudou para sempre o nome desse jogo. Minha filha, ao mesmo
tempo que jogou a cédula de mil no meio do tapete, me desafiou com um gritou.
— Milinho?
Sem para ter onde correr, tive que
encarar aquela petulância. Escolhi uma cédula novinha de mil e a depositei
sobre a dela. É verdade que era nítida a minha hesitação, mas tentei não
demonstrar qualquer ponta de medo.
— Milinho!
Seguiram-se segundos de angústia, até
que a minha filha virou as cartas, um sete de copas e um valete de paus. Sete e
meio. Quanto às minhas cartas, eu havia blefado, pois já havia estourado: duas
cartas de quatro e uma de dois. Mas isso não importa, pois, a partir daquele
momento, passamos a chamar o sete e meio de milinho.
- Nota de esclarecimento: A crônica "Milinho" foi publicada por Notibras no dia 25/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/aipim-macaxeira-mandioca-e-milinho-sem-sabugo/
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