Se a garota era gamada pelo verde, nem de perto tal sentimento
se comparava com a adoração que possuía diante de uma iguaria quase unânime,
caso não fossem aqueles chatos do contra. Pois é, Irene tinha fixação por
sorvete. E apreciava sabores diversos, mas era todo entusiasmo diante do de
chocolate.
A pequena abria aquele sorriso quando o pai
chegava com um pote geladinho nas mãos. Ela sabia que, não tardaria, iria se
lambuzar com aquilo tudo. Quer dizer, tinha consciência de que iria dividir com
os irmãos e a mãe, além de dar algumas colheradas caprichadas para o pai,
sempre um guloso que nem a caçula.
O tempo foi se esticando até que a pirralha se
transformou numa mulher. A adoração por sorvete, todavia, a acompanhou durante
toda essa trajetória. E, apesar de já casada e até com uma filha de um ano,
Irene não largava a mesma colher que recebera, ainda menina, de sua mãe. E era
com ela que a agora mamãe usava para tomar sorvete.
Edu, o marido, achava aquilo muito engraçado.
Tanto é que, certa vez, lá estava o casal diante da televisão assistindo a mais
um jogo do time da Irene, cujo uniforme, obviamente, era verde que nem aquela
esperança.
Os dois dividiam um generoso pote de sorvete
de chocolate. E, entre uma jogada e outra dos craques do Palmeiras, eis que
surgiu um curioso interlúdio.
— Irene, por que você só toma sorvete com
essa colher minúscula?
— Edu, é pra prolongar o prazer.
- Nota de esclarecimento: O conto "Irene e a paixão por sorvete" foi publicado por Notibras no dia 5/9/2024.
- https://www.notibras.com/site/colher-pequena-aumenta-prazer-na-hora-do-sorvete/
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