— Ou você me apresenta uma imagem melhor ou, então, vai pro olho da rua.
Por um desses eventos que nunca acontecem a não ser em contos de fantasia, eis que o espelho, talvez incrédulo por causa da afronta do sujeito, tratou de respondê-lo.
— Espera aí, meu caro! Você quer mesmo me culpar por essa sua aparência mal-acabada?
— Vo-vo-você fala?
— Reflito.
— Caramba! Você fala mesmo!
— Surpreso?
— Óbvio que estou!
— E por acaso você também não fala?
— Falo. Mas sou gente, né, meu amigo?!
— E quem disse que somos amigos?
— Modo de falar.
O homem coçou a cabeça, o queixo, como se desconfiado.
— Você é mesmo real?
Nenhuma resposta.
— Ei, você é mesmo real?
— Um minuto.
— Hum... Não quer responder, né?
Rubens voltou a coçar a cabeça e o queixo e, então, voltou a questionar.
— Não quer responder. É isso?
— Calma. Estou refletindo.
— Sobre o quê?
— Bem, você me ameaçou.
— Ameacei?
— Sim. Ou já se esqueceu de que me disse que iria me colocar no olho da rua?
— Ih, é verdade! Espero que me perdoe. É que às vezes sou meio impulsivo. Você nunca é?
— Não.
— Nunca?
— Nunca.
— Sério?
— Sério.
— Hum...
— Hum...
— Tá me arremedando, né?!
— Esqueceu que sou reflexivo?
— É verdade.
— É verdade.
O sujeito ajeitou a gravata, sorriu, verificou se os dentes estavam limpos. Não tinha jeito. Era aquilo mesmo e pronto. Apressado que estava, não apagou a luz do banheiro e foi trabalhar.
- Nota de esclarecimento: O conto "Bate-papo reflexivo" foi publicado por Notibras no dia 21/10/2025.
- https://www.notibras.com/site/bate-papo-reflexivo/
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