terça-feira, 29 de julho de 2025

Maggiolino, o Chefe e Dona Zezé

 

        Para quem não sabe, o mais recente contratado do Notibras carrega a sugestiva alcunha de Maggiolino. Sim, isso mesmo! É que, em italiano, Maggiolino significa besouro, o que é deveras apropriado para um Fusca. Mas não um Fusca qualquer. Trata-se de um dos automóveis mais emblemáticos do poeta e escritor Daniel Marchi, o nosso Dan, editor do Café Literário. 

     De tão elevado prestígio, Maggiolino possui até credencial selada, registrada, carimbada, avaliada, rotulada e até assinada pelos baluartes do jornal: José Seabra, Wenceslau Araújo e Armando Cardoso. E, com tamanha distinção, o pequeno notável, apesar de paulista de montagem, está gabaritado a voar por toda extensão do Distrito Federal.

      Seabra, vulgo Chefe, que é o Diretor da Sucursal Regional Nordeste do Notibras, estava de passagem por Brasília, quando precisou atender um chamado de última hora. Desse modo, um dos nossos melhores jornalistas não refugou quando o Wenceslau, o Editor-Chefe do Notibras, lhe pediu um favor em forma de "ou você faz isso ou, então, estamos lascados!"

       — Não tem como pedir pro Mathuzalém?

      — Num tem, Chefe. O Mathuzalém, desde que o Dan lhe deu aquela garrafa de absinto, vive no maior porre.

          — E a Marta?

          — Tá de férias e só volta no mês que vem.

          — E o...

          — Armando?

          — Sim.

          — Ih, aquele ali só quer escrever sobre os graúdos da política.

          — Então?

          — Então, sobrou você, Chefe.

          — Beleza! Qual é a bronca?

          — Dona Zezé.

          — A cafetina?

          — A própria.

          — O que tem ela?

          — Precisamos entrevistá-la.

          — Só se for no Campo da Esperança.

          — Mas ela não morreu.

          — Não?

          — Não.

          — Então, deve ter mais de cem anos.

          — Noventa e três.

          Dona Zezé, usufruiu de benesses das autoridades após o Golpe de 1964. Proprietária da então mais afamada casa da luz vermelha da região de Planaltina, teria sido protegida de influente coronel ligado à Ditadura Militar. Alguns dizem que era por conta de parentesco, outros afirmam categoricamente que eram amantes, enquanto a verdade, deveras esfumaçada, parece apontar para outro caminho. 

        A idosa há muito teria largado o empreendimento. Dizem que tudo por culpa das feministas, que, pasmem, alçaram voos antes inimagináveis para moças direitas. Ademais, a idade chegou e, desse modo, Dona Zezé resolveu fechar as portas do cabaré e se refugiar em sua mansão no Park Way, construída com o suor das inúmeras mulheres que fizeram o Distrito Federal tremer em tempos de outrora. 

          A missão do Chefe era entrevistar Dona Zezé para que suas memórias se tornassem uma série de reportagens que seriam publicadas na editoria Quadradinho em Foco durante uma semana inteira. Seria um sucesso, ainda mais porque certamente seriam revelados segredos que há muito estavam sob o tapete da hipocrisia da capital.

          E lá foi o Chefe ao volante do Maggiolino a caminho do lar, doce lar da Dona Zezé. Mal chegou, foi recebido por uma sorridente senhora de cachos brancos e carisma de fazer inveja até mesmo ao presidente Lula. Não tardou, a anfitriã, braços dados, levou o famoso jornalista para um passeio pelo jardim de hortênsias, enquanto ele anotava em um pequeno bloco os pontos cruciais da entrevista.

          O bate-papo durou quase duas horas, até que Dona Zezé convidou o Chefe para almoçar. Diante de uma mesa com pernil assado, arroz branco, aipim frito e salada, o homem não se fez de rogado. Comeu e repetiu. 

          Mais do que satisfeito, o Chefe se despediu com um longo abraço e os dois tradicionais beijinhos nas faces. Foi aí que ele ouviu algo que o desconcertou.

          — Seabra, por favor, só quero te pedir uma coisinha.

          — O que a senhora quiser, Dona Zezé.

          — É que não quero que você publique nada do que te revelei até que eu parta desta para melhor.

          Diante daquele pedido, o Chefe não teve como recusar. Desse modo, até o momento, não foi escrita nem mesmo uma palavra sobre as revelações bombásticas da Dona Zezé. Afinal, como o baluarte do Notibras faz questão de dizer, tão ou mais importante do que o sigilo da fonte, todo jornalista precisa ser fiel a ela. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Maggiolino, o Chefe e Dona Zezé" foi publicada por Notibras no dia 29/7/2025.
  • https://www.notibras.com/site/convocado-as-pressas-o-jornalista-jose-seabra-nao-teve-como-refugar/

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