Lauro, era esse o nome do sujeito,
terceiro filho macho de Gumercindo Lisboa, afamado matador de aluguel da região
de Brazlândia, quase Goiás, mas ainda Distrito Federal. Longe de ter herdado a
braveza do pai, era o menos afeito dos irmãos a rompantes de enfrentamento,
sempre preferindo apaziguar os ânimos e, assim, evitar pendengas
desnecessárias. O homem não estava de todo errado, ainda mais porque aquela área
era tomada de apagamentos de registros naturais, o que abarrotava os bolsos do
proprietário da única funerária da cidade.
Não pense você que, por ser desprovido de
coragem, Lauro fosse capaz de se livrar de todos imbróglios. Não por falta de
vontade, diga-se de passagem, mas por mera exposição do fato, que grudava que
nem batom de moça-falada na boca do povo. Desse modo, não tinha como se
esquivar do embate, por mais pessimistas que fossem as chances de sair, ao
menos, vivo.
E o que se deu, e
olha que se deu de fato, se deu por um desses acasos tão improváveis como
ganhar na loteria. E, caso o azar de Lauro fosse proporcional à sorte do novo
milionário, a premiação certamente estaria acumulada.
Coitado! Antes
tivesse provocado a desfeita de não ir à festa junina na casa do seu Alfredo,
poderoso fazendeiro local, lá pelos idos de 1972. Antes não tivesse também
aceitado o convite de Rosinha para um arrasta-pé. Pelo menos, se antes Rosinha
não fosse comprometida com Damião, pernambucano de Garanhuns, pistoleiro tão
temido quanto Gumercindo. Por quê? Por que essas coisas de tantos antes se,
pelo menos e sei lá mais o quê?
Inocente? Talvez.
Puro? Nananinanão! Besta? Certamente. O fato é que o assustadiço Lauro foi
desafiado pelo encolerizado namorado da quase donzela. E, sem ter para onde
correr, teve que aceitar o ingrato destino. Entretanto, no entanto e todavia,
não deixou barato.
— Enfrento, sim, senhor! Mas nas minhas
condições?
— Oxente! Que condições, cabra?
— Hoje é dia de Santo Antônio. Não é dia
de duelar.
— Tá com medo, é?
— Que medo que nada! Sou é homem!
— Então?
— Então o quê?
— Pois quando vai ser?
—
Amanhã, pouco antes do meio-dia. E que seja rápido, pois não gosto de atrasar
pro almoço.
O
duelo foi marcado em frente ao Santuário Menino Jesus de Praga, que acabara de
ser construído. E, quando beirava as 10h, os curiosos já começavam a chegar. Às
11h30, foi a vez de Damião se aproximar montado em um belo mestiço
tordilho.
O desafiante, antes de apear do cavalo, deu
uma boa olhada ao redor. Apertou os olhos e nada do Lauro. Cadê aquele covarde?
Nem sinal. Não apareceu naquele dia nem nunca mais. Escafedeu-se e, ainda por
cima, levou a Rosinha com ele.
- Nota de esclarecimento: O conto "Lauro, o desprovido de brio" foi publicado por Notibras no dia 2/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-dia-em-que-lauro-covarde-de-carteirinha-foi-desafiado-por-valentao/
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