Larissa, apesar de não negar que teria vindo do ventre de sua mãe,
não se sentia parte daquele lugar. Não pela pobreza, que nem era alarmante, mas
por conjecturas que, até determinado momento, ela não conseguia compreender.
Como se fosse uma gata criada por cães. Chegaria uma hora, a garota sentia que
precisaria escalar uma árvore.
Família rígida em relação aos costumes,
enquanto os filhos eram criados para a vida, as filhas precisavam ser moldadas
para serem donas de casa. E qualquer coisa fora desse pensamento era
rispidamente tolido. Onde já se viu menino brincar de boneca? Menina, larga
esse carrinho e vá ajudar a sua mãe a lavar a louça. Ora, pois! Onde já se viu
uma coisa dessas! Ai, ai, ai, ai, ai! Hum!
A menina, para não entrar em atrito com os
pais, fazia o que lhe era mandado. Entretanto, encontrou refúgio em local
inusitado para alguém sem expectativas além daquelas já delineadas. Uma
biblioteca. Pois é, uma biblioteca, aquele local cheio de livros e histórias
das mais diversas.
Larissa logo aprendeu que saber assinar o próprio nome
era algo mais do que suficiente para os que se encontravam ao seu redor
trancafiados em um cubículo com cadeados na única porta possível. Todavia, os
livros, justamente aqueles objetos depositados em estantes, se faziam de
janelas para o universo lá fora. E a moça começou a ler, e ler, e ler, e ler. E
como lia!
Os pais e irmãos de Larissa, com medo da
parenta se perder, tentaram de tudo para que ela largasse aquela ideia de ler,
ler e ler. Os esforços foram inúteis. Tão inúteis que, quando se deram por
conta, já era tarde. Larissa, sorriso nos olhos, havia, finalmente, se
encontrado.
- Nota de esclarecimento: O conto "Larissa, a menina que gostava de ler" foi publicado por Notibras no dia 15/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/larissa-a-menina-que-gostava-de-ler-foi-o-fruto-que-caiu-longe-da-arvore/
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